Encerramento do Farmácia Popular deixa cidadãos sem remédios e deve aumentar despesas hospitalares

Tatiana Moraes
Hoje em Dia - Belo Horizonte
11/08/2017 às 21:16.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:03
 (Marcia Vieira)

(Marcia Vieira)

O fechamento de 39 unidades próprias da Farmácia Popular em Minas Gerais no mês passado faz milhares de vítimas no Estado. Sem os medicamentos, mineiros com doenças crônicas, até agora mantidas sob controle, podem ter a saúde prejudicada. Como consequência, os gastos em saúde dos municípios, que já sofrem com a queda na arrecadação, devem ir às alturas.

Em Montes Claros, as duas unidades do programa Farmácia Popular foram fechadas.

“Vai faltar remédio. O governo cria programas e não os assume, ou cria e não cumpre. Depois, quer que os municípios deem continuidade a eles, o que não é possível”, rechaça o presidente da Associação Mineira de Municípios e prefeito de Moema, Julvan Lacerda (PMDB).

Criado em 2004, o programa Farmácia Popular funcionava em dois modelos. Na rede própria, encerrada em julho, o cidadão tinha acesso gratuito ou subsidiado com até 90% de desconto a 112 medicamentos. Na rede conveniada, que permanece aberta, a lista é reduzida para 25 medicamentos. O Ministério da Saúde pondera que os 25 remédios da rede conveniada respondem por 93% das solicitações do programa. Embora o atendimento das conveniada seja de longo alcance, especialistas de saúde afirmam que impacto com o corte da rede própria será muito alto.
 
PREJUÍZO
Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (SinMed), Fernando Mendonça, a redução no fornecimento de medicamentos vai afetar, principalmente, a população mais carente, que depende com mais intensidade dos programas do governo. “Uma criança que depende de uma medicação e não a toma pode ser encaminhada a um posto de saúde, ou até mesmo, uma internação hospitalar, que custa caro para o governo. Por isso, não entendo essa economia”, lamenta.
 
SEM SAÍDA
Com caixa reduzido e a demanda pelo serviço público crescente, reflexo do quadro econômico marcado pelo desemprego e pela queda na renda da população, os prefeitos afirmam que não têm saída.

O prefeito de Curvelo, Maurílio Guimarães (DEM), conta que precisou reorganizar as prioridades do município para suprir a demanda na saúde. “Havíamos programado asfaltar algumas áreas e desistimos. Também suspendemos a construção de Unidades Básicas de Saúde. Hoje são 16 unidades. Precisava construir mais 10. Não tem dinheiro e vai faltar mais”, critica.

Medida vai melhorar repasse de verbas, diz governo
A justificativa do Ministério da Saúde para a interrupção do programa é a melhor distribuição do dinheiro. Com a extinção de 367 unidades próprias da Farmácia Popular, será possível atender a 41 mil unidades de saúde pelo país, diz a pasta.

“A ação tem o objetivo de ampliar a oferta efetiva de insumos farmacêuticos para o tratamento de doenças como diabetes, hipertensão e asmas, por exemplo, nas unidades de saúde de todo o país. A medida foi possível com a realocação de recursos que eram destinados à Rede Própria do Farmácia Popular, cujo custo administrativo chegava a 80%. Agora, o valor será integralmente aplicado na oferta de fármacos à população”, diz nota enviada pelo órgão. Os 20% restantes eram utilizados na compra de remédios.

Assistente social no município de Ladainha, no Vale do Mucuri, Ingrid Alves Santos aprova a distribuição do dinheiro, desde que ele realmente chegue aos municípios. Em Ladainha não havia unidade própria da Farmácia Popular. A solução era buscar o remédio em Teófilo Otoni.

“Quando o medicamento era mais caro, ou quando a pessoa tinha que ir à cidade vizinha, isso acontecia. O próprio município também mandava buscar. Mas às vezes a pessoa ficava sem tomar o remédio por dificuldade no deslocamento”, diz Ingrid. (TM)

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