Duas vezes mais moradores de rua

Eles dependem da ajuda da população, sofrem com as madrugadas frias e ocupam até canal de avenida

Manoel Freitas
Montes Claros
23/05/2018 às 06:54.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:13
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Em dois anos, a população de rua dobrou em Montes Claros e hoje está estimada em 500 pessoas – muitas delas dependentes do álcool. Os “lares” improvisados no canal da avenida Deputado Esteves Rodrigues, principal via de acesso ao município, passando pela área do Restaurante Popular, cujas portas mantêm-se fechadas, e até na parte histórica da cidade escancaram o drama social. 

A estimativa populacional foi atualizada por Organizações Não-Governamentais (ONGs) e associações com trabalhos voltados para a parcela da sociedade em situação de rua. Gente que vive da solidariedade alheia e nos últimos dias tenta vencer as madrugadas frias, quando a temperatura chega a 16º C. 

“É uma batalha pela esmola”, lamenta, sem abandonar o sorriso, a jovem Amanda Clara Santos Ferreira, de 19 anos, que até os 16 morou na Vila Mauriceia.

Ela diz que teve filho no ano passado e que, mesmo assim, prefere morar na curva da avenida Deputado Esteves Rodrigues, a poucos metros do esgoto. “Aqui é mais suave, em casa não tem ninguém para ficar conversando”.

“Vizinho” dela é o pedreiro desempregado Matheus Felipe Lélis, de 23 anos. “Enquanto não tiver a possibilidade de conseguir um emprego, vou ficando por aqui, porque sozinho não tem como se levantar não, as dificuldades são grandes”. Ele morou até abril do ano passado com mais três familiares no bairro Major Prates e assegura que a ronda urbana da prefeitura “nunca passou aqui”. “Conto nos dedos os minutos para chegar as refeições dos irmãos das igrejas que nos alimentam”.

A ajuda a que se refere o pedreiro Matheus vem, sobretudo, da ONG Alimentando Esperanças, que atua há 10 anos na cidade em parceria com a Primeira Igreja Batista. Ela distribui refeições, agasalhos e encaminha quem tem dependência química para tratamento. 

O vereador Valdeir Contador (PMN) diz que a Câmara precisa exigir da prefeitura uma solução urgente para o drama dos moradores de rua. “O direito de ir e vir é unânime, mas o de permanecer em frente ao Restaurante Popular, por exemplo, não pode se sobrepor ao da municipalidade em zelar pelo patrimônio público”, defende. Segundo ele, todos os dias “os mendigos tomam banho no local, constrangendo principalmente mulheres e crianças”.

A reportagem de O NORTE entrou em contato com a assessoria de comunicação da prefeitura, informando que a Câmara cobra posição da Secretaria de Assistência Social em relação aos moradores de rua, indagando se há prazo para a reforma do Restaurante Popular e projeto para construção de albergue. Até o fechamento da edição, a secretaria não se manifestou.

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