ÍNDIO NO PODER

Povo Xacriabá administra o município de São João das Missões há 4 mandatos

Manoel Freitas
Montes Claros
19/04/2018 às 06:27.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:25
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Eles estão no centro do poder. Pelo menos em São João das Missões, no Vale do Peruaçu, o povo Xacriabá, com aproximadamente 11 mil índios, o maior grupo étnico de Minas Gerais, ocupa o cargo de prefeito há quatro mandatos, além de dois como vice. Ficam bem na foto neste Dia do Índio.

Um ano após o processo de emancipação de Itacarambi, em 1995, o cacique Manoel Gomes de Oliveira exerceu por oito anos o cargo de vice-prefeito. Nos mandatos seguintes, assumiram a chefia do Executivo os professores Marcelo Pereira e José Nunes de Oliveira, que está no terceiro mandato. 

A demarcação do território da etnia pela Funai aconteceu em 1987, quando a aldeia Itapicuru viveu um de seus dias mais sangrentos. No episódio, que ganhou repercussão internacional como a chacina Xacriabá, ocorrida na noite de 12 de fevereiro daquele ano, o vice-cacique Rosalino Gomes de Oliveira, pai do atual prefeito José Nunes e do cacique Domingos Xacriabá, foi assassinado por um grupo de grileiros. Participaram do crime 15 pistoleiros, sob a liderança do fazendeiro Francisco de Assis Amaro, que recebeu pena de 27 anos de prisão. 

Mas estes tempos ruins passaram. A tribo ocupa hoje 70% do território de São João das Missões, em área contínua e preservada, que favorece a sobrevivência de animais de médio porte. A economia nas 32 aldeias do povo Xacriabá é baseada em atividades diversas. 

Há um número considerável de homens adultos que migram temporariamente para São Paulo, Goiás e, principalmente, o Mato Grosso, onde trabalham em lavouras de cana em épocas de colheita. Alguns índios chegam a cortar diariamente 32 toneladas de cana, habilidade favorecida por seu porte físico avantajado, que rende a eles prêmios de produtividade. 

Festa em cemitério celebra antepassados
Um dos rituais mais marcantes do povo Xacriabá é a Festa de Santa Cruz. Cada aldeia ornamenta, de acordo com suas tradições, os cemitérios, que simbolizam a presença dos ancestrais. Uma importante prática cultural que ajuda na preservação da memória coletiva. As comemorações acontecem dia 23 de abril, com levantamento do mastro nos campos santos, um tronco de aproximadamente 10 metros de altura, e prosseguem até 10 de maio.

A festa envolve diferentes rituais, que começam com o trabalho de ornamentação dos cemitérios, o levantamento do mastro, a realização da novena. Ao final das celebrações, marcantes na cultura das aldeias porque ilustram como os indígenas lidam com a morte, são realizadas danças típicas, ao toque de violão, acordeão e outros instrumentos musicais.

Os túmulos são enfeitados com bandeirinhas, que saem do centro em círculos até as laterais. No interior do círculo é montado um altar, onde são colocadas velas e flores artificiais coloridas.  

ESCOLA 
A etnia Xacriabá foi a primeira no Estado a integrar o programa Casa-Escola, em 2010, concluído no mesmo ano com a construção de 35 unidades em suas 32 aldeias. Cada casa-escola tem de uma a três salas de aula e atende, no máximo, 65 alunos. 

Até então, muitas escolas funcionavam em galpões e salas improvisadas. As disciplinas são diferenciadas. Além do currículo exigido pelo MEC, contam também com disciplinas específicas que tratam da história de luta do seu povo, cultura, tradições, estudo geográfico das aldeias e produção agrícola. As unidades têm pé direito mais alto. 


 

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