Por telefone, um “servidor” do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) avisa que o pagamento pendente há anos, por parte do Estado, está liberado. Para receber a quantia, a pessoa precisa realizar um depósito de aproximadamente R$ 5 mil, referente aos custos com despachantes. O suposto funcionário, no entanto, é um golpista e a história não passa de uma tentativa de estelionato.
É dessa forma que muitos credores do Estado, com precató-rios a receber, têm sido alvo de criminosos em Minas. Apenas em maio e junho, o TJMG contabilizou uma denúncia da prática ilícita a cada dois dias.
Coordenador da Central de Precatórios, o juiz Christian Garrido Higuchi afirma que os valores expressivos são o maior atrativo para os bandidos. Segundo o magistrado, R$ 768 milhões foram pagos em precatórios em Minas Gerais apenas no ano passado.
“Os criminosos ficam sabendo quem são os credores por meio da publicidade que o Tribunal é obrigado a fazer em relação a esses pagamentos. Geralmente, são pessoas até de outros estados. Suspeitamos de algumas agindo dentro de presídios”, explica Higuchi.
VÍTIMAS
Na lista de vítimas dos estelionatários, acrescenta o juiz, há muitos idosos, ex-servidores do Estado com diferenças salariais a receber, donos de imóveis desapropriados para a construção de estradas ou até mesmo indenizações por morte, que devem ser pagas a herdeiros.
Rodrigo* por pouco não foi prejudicado. Ele recebeu o telefonema de uma mulher se passando por secretária do advogado da família, com todos os dados do processo, solicitando um depósito de R$ 4.900 para a efetivação do pagamento.
“Trata-se de uma quantia que meu pai esperou até a morte. E não recebeu. A pessoa que ligou tinha todos os nossos dados e falava muito bem. Por desconfiança, liguei para o TJ e descobri a farsa a tempo. Se fosse minha mãe, facilmente cairia no golpe”, relembra.
PRECAUÇÕES
A orientação dada pelo TJMG aos credores é jamais fazer depósitos na conta de terceiros, já que o órgão não exige o pagamento de taxas processuais em troca da quitação dos precatórios. Quem descobrir que foi alvo do golpe deve procurar a polícia.
Além disso, dúvidas podem ser esclarecidas no site do tribunal (tjmg.jus.br).
A Polícia Civil foi procurada para falar sobre investigações a respeito do golpe dos precató-rios e das precauções contra os estelionatários. No entanto, a corporação não se pronunciou nem disponibilizou fonte até o fechamento desta edição.
* Nome fictício