Risco de incêndio assombra museus do Norte de Minas

Instituição de Montes Claros e de outras cidades não possuem sistema de segurança

Manoel Freitas
O Norte - Montes Claros
06/09/2018 às 06:42.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:18
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

O incêndio de grandes proporções que destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, o maior de história natural do Brasil, com um acervo de 20 milhões de itens, acendeu o alerta com relação à estrutura e manutenção dessas instituições no país. Em Montes Claros, o Museu Regional do Norte de Minas também está exposto a esse tipo de risco, pois não possui sistema de segurança contra incêndio.

Abrigado em um casarão erguido há 135 anos – alvo das chamas em 2007, quando ainda estava abandonado –, o Museu Regional guarda preciosidades da cultura e história locais.

Durante anos o imóvel passou por obras de restauração, cujo projeto foi desenvolvido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

Mas, segundo a professora Marina Queiroz, que atualmente dirige a instituição, não foi executado o projeto de iluminação. “O dinheiro não foi suficiente e olha que aqui tem um sistema elétrico que provoca a queima de muitas lâmpadas e eu temo pela precariedade”, alerta, lembrando se tratar de um casarão antigo.

“E é muita madeira, pura madeira. Então, o fogo pode alastrar rapidamente, o que é muito grave, porque ficamos sempre sem água”, revela a diretora, frisando ter outro receio – o famoso Beco da Vaca.

O espaço fica ao lado do prédio e é comum ver pessoas fumando ou até mesmo usando drogas no local. “Eu vi dois rapazes acendendo fogo para usar drogas, e o fogo rapidamente se alastrou”, conta Marina.

A diretora argumentou que o Museu Regional do Norte de Minas precisa de mais vidros para proteção do acervo. “Os vidros que são colocados sobre os objetos ajudam a conter as chamas e há muito é nítida a fragilidade da estrutura do casarão, que já reclama por reforma”, afirma.

Marina Queiroz lembra que já havia ficado desolada com a com a destruição do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. “É como se tivesse queimado a nossa própria pele. E o que mais preocupa é que escutamos – e aqui não vai nenhuma manifestação revoltosa – que falta dinheiro. E se falta dinheiro para saúde, para educação, para segurança, então você imagina que para a cultura, numa hierarquia de prioridade, fica lá embaixo. E dentro da cultura, o museu é o último”, lamenta.
 
SITUAÇÃO COMUM
Minas Gerais tem 417 museus. No Norte de Minas são três em funcionamento: o Museu Regional do Norte de Minas, em Montes Claros; da Cachaça, em Salinas; e a Casa Camilo dos Santos, em Pirapora.

Outros dois estão em fase adiantada de implantação em Bocaiuva. Há ainda seis procurando atender às normas do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), instituição parceira do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Entretanto, já integram o Sistema Estadual de Museus, sendo que todos que estão em atividade têm em comum a inexistência de sistemas de segurança contra incêndio.
 
PERDA DE ACERVO
O presidente da Fundação Darcy Ribeiro, Paulo Ribeiro, disse ter ficado profundamente abalado com o incêndio no Museu Nacional. “Transformou em carvão os acervos de dois montes-clarenses ilustres, meu tio Darcy Ribeiro, considerado um dos maiores antropólogos do mundo, e Cyro Versiani dos Anjos, jornalista, professor, advogado, romancista e renomado memorialista brasileiro”.

Para Paulo, foi um absurdo. “Queimaram 200 anos de história do Brasil e não temos como recuperar 20 milhões de peças. Muita irresponsabilidade de nossos dirigentes, que cortam verbas para fazer um projeto de incêndio. Como o mais importante museu do país não tem um projeto de incêndio?”, questionou, afirmando em tom emotivo que o incêndio destruiu mais de 20 anos de trabalho de Berta Gleizer Ribeiro, mulher de Darcy, antropóloga e etnóloga, autoridade em cultura material dos povos indígenas do Brasil.

Foi ela quem organizou todo o material indígena que existia no Museu Nacional. “Décadas de trabalho jogadas fora, inclusive as coleções do Marechal Rondon, que montou durante sua vida registros importantíssimos de como os índios viviam em harmonia com a natureza. Mas o que causa maior repulsa é que ninguém será culpado ao final”, desabafou.
 
VARREDURA EM MG 
Uma força-tarefa começa a vistoriar, a partir da próxima segunda-feira, museus, monumentos históricos e parques naturais do Estado. As condições de segurança, como a presença de extintores e hidrantes, saídas de emergência e alvarás de funcionamento, serão verificadas. A medida busca evitar tragédias como a que atingiu o Museu Nacional.

Os trabalhos serão feitos por equipes do Corpo de Bombeiros e das secretarias estaduais de Cultura e Meio Ambiente. Segundo o coronel Cláudio Roberto de Souza, comandante-geral do Corpo de Bombeiros, as visitas visam prestar as devidas orientações “para atuar preventivamente nesses setores com interesse na segurança do público e dos bens”.

Em nota, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que a destruição do Museu Nacional ampliou o alerta para a proteção do patrimônio cultural. Um comunicado foi enviado aos promotores de Justiça do Estado pedindo atenção especial para as condições de segurança de espaços históricos que abriguem os acervos.

“É importante garantir a existência de Sistema de Proteção contra Incêndio e Pânico instalado e eficiente e a existência de Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros válido nesse imóveis”, diz a promotora Giselle Ribeiro.

 
 

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