Grão Mogol é o destino no primeiro dia de expedição no Caminhos dos Geraes

Jornal O Norte
01/12/2005 às 09:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:55




Luís Alberto Caldeira


Repórter


luis@onorte.net





Pé na estrada. Agora não dá para voltar atrás nem dá tempo de guardar ansiedade ou apreensão. O velocímetro começa a girar, e o vento que corta a janela de nossos carros e bagunça nossos cabelos nos dá boas vindas a esta aventura que começa.




Junto com este repórter está o ambientalista Eduardo Gomes, técnico da secretaria municipal de meio ambiente de Montes Claros, o turismólogo Heberth Canela Salgado, o jornalista Christiano Jilvan, o cinegrafista Paulo Rodrigues, e os nossos motoristas Anacleto José Victor, técnico do Instituto Estadual de Florestas/ núcleo Bocaiúva e José Agda, técnico do IEF de Belo Horizonte.




Além de toda esta equipe, outros dois grandes companheiros: o Pequizão e o Asa Branca, respectivamente o jipe Troller amarelo e a S10 4x4 cabine dupla que nos leva nessa viagem, respeitosamente batizados assim.




Esta é a expedição Caminhos dos Geraes, que foi uma das principais atrações da 16ª Festa nacional do pequi, e que teve como objetivo explorar, durante três dias, a biodiversidade cultural, histórica e ecológica do Norte de Minas, de forma a inserir a região nos roteiros de turismo de todo o país, e por que não, do mundo. Proposta ambiciosa? Talvez. Mas quem pensa no futuro, trabalha o seu presente. E aqui damos o primeiro passo. Acreditar, conhecer, divulgar. Discutir entraves e perspectivas. Unir forças para uma meta em comum: promover o desenvolvimento regional.

       

CURVA DA MORTE

 

Nossa aventura promete surpresas. Com o início do período chuvoso, a paisagem se transforma. O alerta é de muita água e muita lama. Mas no nosso primeiro dia, o asfalto ainda predomina... pelo menos por enquanto.




Atendendo ao roteiro pré-estabelecido à nossa equipe, seguimos pela estrada de Francisco Sá. E é neste município, de cerca de 24 mil habitantes e que tem como principal atividade a agropecuária, onde fazemos uma rápida parada. Por aqui, visita à prefeitura municipal e entrega de algumas edições da Revista Verde Grande à biblioteca pública.












Os ponteiros do relógio insistem em correr. É hora de seguir viagem. Pouco adiante, uma primeira surpresa: um caminhão parado no acostamento revela um acidente de trânsito. Desta vez sem vítimas. Estamos na BR 251, mais precisamente na conhecida Curva da morte, um dos trechos negros das estradas brasileiras. O nome assustador é respaldado por pedaços de carcaças de outros veículos encontrados no chão e por uma cruz plantada ali certamente por alguém que perdeu alguém próximo.

 

 

 




CURVA DO VENTO

 

A marcha forte nos faz subir a Serra do Espinhaço, onde é possível chegar a um ponto visível que divide os vales dos São Francisco e do Jequitinhonha. Beleza de um lado, beleza do outro, e a estrada passando no meio. É a chamada Curva do vento, um local que merece um planejamento de forma a explicitar esta questão geográfica.

 

LIXO

 

O cheiro de eucalipto no ar significa que já estamos próximos aos limites do município de Grão Mogol, nosso destino de hoje, agora entrando em uma área de reflorestamento de pinos.




Ao nosso lado, a cadeia montanhosa da Serra Geral rouba a cena. Chegamos ao extremo norte do Parque estadual de Grão Mogol. Em contraste à bela paisagem, um amontoado de lixo doméstico de famílias que vivem entre a natureza, a pobreza e a falta de consciência ecológica.















- Como não tem coleta, a gente mesmo que pega e joga aí pra fora do quintal. Enquanto não tem casa aí atrás, a gente joga aí mesmo – relata Maria Aparecida Batista, uma moradora do vilarejo chamado Bocaina.














IRAPÉ

 

Do Vale das Cancelas, onde paramos para o almoço, é hora de dar adeus ao asfalto. Pela frente, 60 km de estrada de terra, ou melhor, de lama, para seguirmos até às obras da Usina Hidrelétrica de Irapé.













No caminho, corte de eucaliptos para fabricação de carvão para siderurgia e cerca de 120 fornos com capacidade de produção de quatro metros do produto cada um.































Debaixo de chuva, chegamos à sub-estação de Irapé, em fase final de conclusão, onde será feita toda a distribuição de energia, numa rede que liga até Montes Claros.














Aqui é uma região muito perigosa, desde o acesso até o deslocamento de veículos. Não é a toa que instantes antes da presença de nossa equipe no local, um ônibus de funcionários que subia a base da torre ficou atravessado na pista em virtude das condições meteorológicas, interrompendo o trânsito e nos impedindo de chegar na base da usina como estava previsto.













Mesmo diante de toda a discussão sobre o impacto ambiental, Irapé é, sim, uma obra grandiosa e que impressiona, importante para a região. A previsão é de que em até dois anos esteja em pleno funcionamento.













 

- QUERO IR EMBORA DAQUI

 

Há seis meses, Rogério Macedo Pinto pegou a estrada de Presidente Dutra, no Maranhão, até às obras da sub-estação da Usina de Irapé para trabalhar como auxiliar de eletricista, oportunidade de emprego que surgiu, tomando conhecimento por outros amigos que também fizeram o mesmo caminho.




- Aqui é ruim demais, é difícil. É um teste de sobrevivência. Sinto falta da família, dos amigos – relata o auxiliar de eletricista, que ganha 312 reais mensais para uma rotina de trabalho das 7h da manhã às 18h, com direito a uma hora de almoço e descanso. Segundo nos conta, seu salário pode chegar até R$ 500 caso faça hora-extra.




Dos cerca dos 120 empregados da empreiteira responsável pelas obras, muitos deles tem um ponto em comum com Rogério: vieram de longe. Maranhão, Pará, Alagoas e São Paulo são apenas alguns dos pontos de partida daqueles trabalhadores.




Percebemos ali um dia-a-dia difícil, uma rotina que se resume em muito trabalho e saudade de quem está longe, visita à família que é possível ser feita somente a cada seis meses, com exceção de quem é casado e pode viajar a cada 90 dias.




Saindo da UHE Irapé, mais 45 km de lama em sentido ao município de Grão Mogol. No caminho, passamos à beira de toda a região que será inundada com a finalização da usina, e de onde famílias que possuíam pequenas propriedades já estão sendo reassentadas em outros locais.

 

 

GRÃO MOGOL

 

Trilhas, caminhos de pedras, um grande patrimônio histórico, além de uma beleza paisagística interessante. Este é o município de Grão Mogol, que registra atualmente em torno de 16 mil habitantes.




A cidade ficou conhecida a partir da exploração de diamantes no século XVIII, chegando a ter seu auge mas também a sua decadência.




- A produção de diamante caiu quase que a zero a partir de 1860. Hoje, o garimpo da pedra não dá conta mais de sustentar uma família, e atualmente é feita só esporadicamente e de maneira artesanal – explica o historiador Geraldo Ramos Fróes, nascido e criado naquele município.




- Grão Mogol no auge do garimpo chegou a ter 12 mil habitantes e por volta de 1950 estava reduzida a pouco mais de 700 pessoas. Só a partir de 1970 que começou a se reerguer – conta o historiador local, que, modesto, prefere ser intitulado apenas como curioso.




Sobre a chegada próxima do asfalto à estrada que dá acesso ao município e a finalização das obras da Usina Hidrelétrica de Irapé, Geraldo Fróes mostra-se temeroso ao que ele chama de ônus do progresso, mas acredita que no final o desenvolvimento virá somar.




- Nós passamos 50 anos sem acontecer um crime de morte na cidade, recorde que recentemente foi quebrado. O asfalto é uma faca de dois gumes. Irá melhorar o acesso à cidade, o que é um sonho de muitos anos. Talvez a nossa tranqüilidade seja quebrada, mas creio que as virtudes serão maiores que os problemas futuros.

 

TURISMO DE MASSA

 

O secretário de meio ambiente de Grão Mogol, Paulo Eugênio Ferreira Paulino, comemora a licitação do asfalto – apesar de afirmar que fará a festa só depois da certeza do início das obras – e ressalta que solucionando a deficiência dos 53 km de estrada de terra que dá acesso ao município, será possível o crescimento do que ele chama de turismo de massa.




- O ecoturismo é interessante, mas infelizmente ainda é um turismo pequeno para o município. Não que eu seja contra, sou muito a favor, pois geralmente são ambientalistas e defensores da natureza, pessoas que ajudam na preservação, mas para o comércio, a gente ainda precisa do turista do fim-de-semana, aquele que deixa divisa no município.

 

CONTINUA...

 

Nosso primeiro dia de expedição chega ao fim. No próximo sábado, O Norte continua no circuito do Caminhos dos Geraes. Passaremos por Cristália, onde subiremos 1.250 metros de altitude, chegando bem no topo do Morro do Chapéu. Vamos conhecer as cachoeiras do município de Botumirim e ver de perto toda a riqueza da flora do cerrado no trajeto até Itacambira. Deu vontade? Então não perca a nossa próxima reportagem/image/image.jpg?f=3x2&w=300&q=0.3"http://www.onorte.net/noticias.php?id=1415">O Norte de Minas desbravado pela reportagem: Festa nacional do pequi ganha nova dimensão com sua regionalização





- Caminhos dos Geraes: Belezas do Norte no paraíso da natureza





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