Falando de Minas para Minas

Jornal O Norte
25/07/2005 às 16:36.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:48

Amelina Chaves


Da Academia montes-clarense de Letras

Muitos já falaram de Minas pelo dito e não dito. Também vou falar. Vejo Minas como um mundo à parte... Suas características são únicas, inigualáveis, na fala, no jeito, no cheiro e no gosto. O escritor Vivaldi Moreira chamava o lugar onde nasceu de País do tanque, tamanha a grandeza que ele via no seu local de origem. Eu chamo Minas Gerais de País da preciosidade, por vários motivos: sua história, o povo simples, amoroso, que habita os mais esquecidos rincões das gerais, gente forte de idéias próprias, que não se corrompe facilmente. Mineiro é manso, gentil, mas, quando resolve teimar e põe o pé no barranco, ninguém tira. Pode até dar com os burros n’água, mas não muda.

Minas Gerais é chamada de berço de heróis, pelos grandes nomes que marcaram o seu passado. Para citar todos, teria que escrever um livro. Se alguns nomes são lembrados é porque estão bem perto da minha escrita. Minas tem Saul Martins, mestre em folclore; Manoel Hygino, memória viva; Paulo Narciso, cidadão universal; Roberto Elísio, que escreve com ternura; Dário Cotrim, que busca histórias de Minas; Domingos Diniz, contador de causos; Pretrônio Braz, que faz leis e poesias, presidente da Aclecia. Tem Braúna, que descobriu a lenda do arco-íris. Nomes de amigos sem fim.

Minas tem vilas e cidades, tantas, e quantas? Não saberia contar. Tem até cidades que, na calada da noite, nas horas mortas, o povo pode ouvir o gemido do vento e o trinado de um bandolim em serenata, que só o mestre Alencar sabia tocar.

Minas tem uma infinidade de montes, até Montes Claros, local onde a palavra saudade soa mais forte e dorida, porque é terra de João Chaves. Amo-te muito é cantada em prosa e versos, para despertar os corações apaixonados. Montes Claros tem feiras tradicionais e o folclore está vivo na boca do povo. Aqui, a velha Zefa Papuda ensina uma simpatia para as moças casamenteiras, ou Benedita Saracura faz uma mandinga para amarrar um homem. Aqui, Minas é mais latente, todos esperam a boa nova entrar nos campos.

Minas tem muita gente letrada, mas o povo também sabe muito, pois, à parte, tem uma imensa e grandiosa faculdade chamada natureza, sem cobrar nada.

O ensino é de graça. Lá se aprende filosofia, com os ditados populares; medicina, nas plantas que curam todos os males. Sem falar na meteorologia: quando as cigarras cantam, podem guardar a roupa do varal que a chuva está chegando. O povo sabe que, quando o pássaro Rasga-mortalha canta no telhado de uma casa, está agourando alguém.

Em Minas ainda existe uma grande fé no sobrenatural. No País da preciosidade tem uma nova cidade chamada Catuti. Beleza de lugar! Sertão puro, onde das mão habilidosas de dona Jiru saem os melhores biscoitos-fofão, iguais aos da minha infância. Lá, as crianças ainda brincam montadas em cavalos-de-pau. Tem cabra-cega, e o mais interessante é que os cavalos são bravos mesmo. Pulam, relincham e jogam os meninos no chão de poeira. Atraso, isso? Não! Pureza de infância, é a alma guardando boas lembranças.

Minas antiga também tem Minas Novas, com novo prefeito, Murilo Badaró. Deus permita que ele promova a cultura, traga à tona uma das mais expressivas histórias de Minas. De lá vêm muitos homens ilustres.

Minas é o país dos milagres, provado nos nossos cerrados onde, na sequidão da terra, brotam os pequizeiros, florescem, e dão alimento ao sertanejo. Frutos de ouro. Que gostosura! Tudo em Minas é divino, criado pelo senhor do universo, que está dentro de nós.

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