Crise desestimula produção de leite e preço nos supermercados pode subir

Recessão e seca recorde desestimulam a produção e preço nos supermercados pode subir em Minas

Lucas Borges
Hoje em Dia - Belo Horizonte
26/09/2017 às 00:44.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:44

Um dos principais produtos do agronegócio brasileiro e mineiro, o leite vive uma crise de mercado que afeta diretamente produtores e consumidores. Mesmo com a queda do preço no varejo, o consumo diminuiu, o que fez com que o valor pago aos produtores também reduzisse.

O cenário acarreta em desestímulo na produção láctea, já que muitos produtores abandonam a atividade e passam a investir em outros setores. Em Minas, maior produtor de leite do Brasil, com média de mais de nove bilhões de litros por ano, o sinal de alerta está ligado.

Segundo levantamento feito pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o produtor mineiro recebeu em média em agosto, R$1,26 por litro – a menor cotação em 2017.

Mas o preço na região Norte de Minas é ainda mais baixo, conforme conta Marcelo Brant, produtor de leite e diretor do Sindicato Rural de Montes Claros. “Hoje vendemos o leite em torno de R$1,15, mas só vamos receber em dinheiro em outubro sem saber se o valor vai permanecer. Estamos nos juntando para comprar suplementos para o gado para sair mais em conta”, relata.
 
DIFERENÇAS
Em comparação com o preço pago em maio, maior cotação do ano, a queda foi de 10,6%. Na época, o produtor recebeu R$1,41 por litro. A média nacional também diminuiu, passando de R$1,38 para R$1,26 no mesmo período.

Os dados são ainda mais preocupantes levando-se em conta que é neste período do ano em que a estiagem naturalmente diminui a produção do leite. Com isso, a expectativa dos produtores era de que o preço subisse em decorrência da menor oferta do produto no mercado, o que não aconteceu.
 
NA PRATELEIRA
De acordo com levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), atualmente o consumidor paga cerca de R$ 2,90 pelo litro de leite. No mesmo período em 2016 o valor era de R$3,90.

Segundo Celso Moreira, diretor executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), a crise econômica que o país atravessa interfere diretamente no mercado leiteiro. “O que ocasionou essa queda no consumo foi principalmente a falta de renda da população, o desemprego e o medo de perder o emprego. Essa insegurança gera uma situação de mercado ruim”, diz.

Moreira afirma que apesar de o preço do leite ainda não ter sido afetado nas gôndolas dos supermercados, o prognóstico é o de que, permanecendo o cenário atual, a elevação no valor seja inevitável.
 
NEGATIVA
Em reunião com membros do governo federal, em 12 de setembro, em Brasília, representantes do setor lácteo pleitearam a volta das compras governamentais como forma de atenuar os efeitos da crise no mercado. Entretanto, num primeiro momento, não houve avanço nas tratativas com o Planalto. (Com Christine Antonini)

Preço não cobre custos do produtor
Se a crise do mercado do leite ainda não afetou o bolso do consumidor, no caso dos produtores a queda no valor pago pelas empresas já gera um grande impacto no campo.

O diretor do Sindicato Rural de Montes Claros, Marcelo Brant, conta que a situação dos produtores de leite do Norte de Minas é ainda pior por falta de pastagem e água. “Na minha propriedade produzíamos 800 litros de leite por mês; hoje estamos fazendo apenas 200. Também não estamos podendo investir. Os bancos não querem abrir empréstimos por não ter certeza da continuidade da atividade leiteira”.

Proprietária da fazenda Baixadão, em Carmo do Cachoeira, no Sul de Minas, Helena Nogueira Frota revela que o momento ruim do setor não estava previsto. Com produção de cerca de 3.500 litros por dia, a empresária afirma que os preços praticados atualmente estão aquém da necessidade dos produtores.

“Para custear a produção, o mínimo é de R$1,20 por litro. Mas para ser rentável para o produtor, levando-se em conta todos os custos de produção, o valor teria que ser de pelo menos R$1,40. Ano passado estávamos recebendo R$1,60, hoje recebemos R$1,24”, lamenta.

Para conseguir sobreviver no cenário desfavorável, Helena Nogueira entende que uma gestão eficiente é o único caminho para que o produtor continue ativo no mercado e não abandone a atividade. “Para quem não está estruturado, sem todos os custos da produção em mãos, isso (desistir do negócio) vai acontecer. O importante é estar preparado para essas situações. Há quatro meses o mercado ficou ruim, mas se tiver planejamento, você consegue suportar esse momentos. Os pequenos produtores, que não dão conta, estão passando a produção para as grandes empresas”, revela.

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