Cresce intoxicação por agrotóxico

Casos aumentaram 300% no Estado em nove anos

Raul Mariano
Hoje em Dia - Belo Horizonte
09/06/2018 às 06:56.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:30

Minas é o segundo Estado no ranking nacional de intoxicações por agrotóxicos. Relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revela que as notificações cresceram mais de 300% de 2007 a 2015. No período, foram mais de 13 mil casos. 

O aumento vai de encontro a um projeto de lei do deputado federal Luiz Nishimori (PR), do Paraná, para flexibilizar o uso de defensivos agrícolas em todo o país. O texto propõe, dentre outras medidas, a troca do termo “agrotóxico” por “produto fitossanitário”.

Além disso, a proposta inicial visava concentrar a autorização para a venda das substâncias no Ministério da Agricultura. Hoje, é preciso passar também pela Anvisa e o Ibama.

Especialistas alertam que, caso o projeto seja aprovado, os prejuízos à saúde da população podem ser incalculáveis. Toxicologista da Unidade Técnica de Exposição Ocupacional do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Márcia Sarpa afirma que inúmeros estudos já associaram a exposição aos agrotóxicos a vários tipos de doenças, entre elas o câncer. 

A pesquisadora explica que as pessoas podem ter intoxicações agudas, após o contato com grandes quantidades desses produtos em curto período de tempo, ou crônicas – a forma mais comum, depois de pequenas exposições aos agrotóxicos ao longo de muitos anos. 

No último caso, os efeitos afetam os sistemas imunológico e endócrino, causando até mesmo a desregulação hormonal. “Na prática, o longo contato pode adiantar a puberdade em adolescentes, provocar abortos, crianças com malformação, infertilidade masculina e até câncer”, diz Márcia. 

Vários defensivos banidos da agricultura em outros países continuam sendo usados no Brasil. Para a toxicologista, a mudança proposta pelo projeto de lei pode aumentar a insegurança alimentar de milhares de pessoas.

“Essa medida quer estabelecer limites aceitáveis para agrotóxicos proibidos. O problema é que, para essas substâncias, não há dosagem segura”.
 
HERANÇA 
José Maria Campos, que trabalha há 30 anos no ramo, conta que mesmo utilizando luvas e máscaras sofre constantemente com as consequências da intoxicação. “Meus olhos queimam, fico tonto e já cheguei a desmaiar”.

Uma forma de fugir dos agrotóxicos é a alimentação com produtos orgânicos, cultivados com adubo natural e geralmente encontrados na agricultura familiar. Em Montes Claros, é possível conseguir os alimentos diretamente dos produtores em feirinhas como as dos bairros São José e Major Prates. 

“Nossos produtos são produzidos com adubos biológicos e sem agrotóxicos. Financeiramente é mais atraente para o consumidor, pois vendemos com preços mais razoáveis do que os supermercados”, ressalta Weviton Feitosa, o Baiano, que trabalha há dez anos como agricultor.

Em nota, a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) se posicionou favoravelmente à “modernização” da lei e defendeu ser possível o uso seguro de agrotóxicos.

Já o deputado Luiz Nishimori alega que a proposta inclui o critério de avaliação de risco em complemento à análise de perigo utilizada hoje para novos produtos. Sobre a alteração da nomenclatura para produtos fitossanitários, o parlamentar informou que “este é um detalhe que pretende colocar o Brasil em consonância ao que é praticado em outros países”.
(Colaborou Christine Antonini)

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