Receita de raiz

Barata, saborosa e farta no Brasil, a mandioca ganha toque requintado na alta gastronomia

Patrícia Santos Dumont
Hoje em Dia - Belo Horizonte
11/08/2018 às 07:25.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:53
 (DIVULGAÇÃO)

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Conhecida de Norte a Sul do Brasil, muito apreciada embebida em suculento caldo de manteiga de garrafa, frita na mesma base ou apenas cozida, a mandioca aipim ou macaxeira, dependendo do lugar no mapa, é mais do que um ingrediente 100% brasileiro. Barata, fácil de encontrar, nutritiva e de sabor suave, é um curinga, que pode também chegar à mesa carregada de requinte nas receitas da alta gastronomia. 

Proprietário de restaurante e chef Carlos Bruno Carneiro, por exemplo, usou a raiz brasileira como substituto à altura da batata, ingrediente base do aligot, espécie de purê típico da culinária francesa.

Acompanhado por bife de chorizo e cebolas caramelizadas, o creme, cuja consistência é mais elástica do que o preparado com leite na cozinha brasileira, ainda leva queijo grana padano ou parmesão.

Alguns dos motivos da troca, explica o cozinheiro, são o preço, convidativo (o quilo de mandioca custa, em média, R$ 1,25), a ampla oferta e o valor nutricional destacado por profissionais da área de saúde. 

“É uma maneira interessante de fugir da mesmice. E ainda dizem que ela tem propriedades nutricionais melhores do que as da batata”, comenta o chef. 

A dica dele na hora de preparar o aligot em casa é manter o fogo sempre alto ao mexer o creme. De consistência mais rígida em relação à batata, a mandioca – rica em amido –, apesar de conferir liga às receitas, pode se solidificar rapidamente e “estragar” o prato.  
 
QUAL TIPO?
Escolher o tipo certo é outra importante missão de quem deseja incluir a raiz brasileira no cardápio. O chef Henrique Gilberto ensina um macete. De textura mais macia e sabor adocicado, a amarela é indicada para servir cozida. Já a branca fica perfeita frita e em molhos e guisados. 

O chef leva o ingrediente à mesa em dois formatos, de pele (ou chips), feito de goma desidratada e frita, e no bobó com tempero baiano, servido com emulsão de coentro, purê de gengibre, camarão e castanha de caju.

“Sem dúvida é um ingrediente supercuringa. Talvez seja o mais interessante da nossa história, cultivado em solo brasileiro e praticamente exclusivo da nossa região”, enfatiza Henrique Gilberto. 

À reportagem, o chef adiantou que está investindo numa receita nova, ainda mantida sob sigilo. Pão de mandioca é o prato da vez. 
 

SAIBA MAISDerivados da mandioca

1- Farinha d’águaÉ obtida das raízes colocadas na água e fermentadas. Depois de amolecidas, são descascadas, raladas, peneiradas e secas no forno. É chamada também de farinha do Pará 2- Farinha beijuDe origem indígena, tem aspecto flocado e, na Bahia, é muito consumida no café ou no leite, com rapadura 3- Farinha gomadaÉ bem fina e tem muito amido. É usada em pirões, ensopados e no barreado, tradicional prato paranaense, justamente por conferir textura cremosa 4- Farinha secaÉ a farinha comum, de mesa, obtida a partir da raiz triturada e seca no forno em temperatura bem alta 5- GomaÉ o polvilho usado no preparo de tapioca e de mingau 6- Polvilho (azedo ou doce)É o amido da mandioca, resultado da decantação da raiz. Usado em biscoitos e no pão de queijo tradicional 7- TucupiCaldo amarelo extraído do processamento da mandioca brava descascada, ralada e espremida. Acompanha vários pratos da culinária do Norte brasileiro

RECEITA:
Veja abaixo o passo a passo da receita de Mil-folhas de mandioca, criação do chef Léo Paixão, do restaurante Glouton, em BH, reproduzida pela chef Cidinha Lamounier, professora no curso de gastronomia das Faculdades Promove

Mil-folhas de mandioca

- Ingredientes:
1 kg de mandioca descascada
200 g de manteiga derretida
Óleo para fritar

- Modo de preparo:
Atenção: Esta receita requer três horas e meia de forno e três horas de geladeira.
Corte a mandioca em fatias finas no sentido do comprimento usando mandolim ou fatiador de queijo. Em assadeira retangular (21x10x5 cm de altura) untada com manteiga, monte camadas desencontradas de mandioca, pincelando com a manteiga até terminarem os ingredientes (aproximadamente 23 camadas). Cubra com papel alumínio e leve ao forno baixo pré-aquecido (130°C) por três horas e meia. Leve à geladeira por três horas.
Corte em quadradinhos, frite em imersão até dourar e deixe escorrer sobre papel absorvente. 
Sirva sobre a maionese de pimenta e decore com brotos e flores comestíveis.

Maionese de pimenta
- Ingredientes:
½ xícara (chá) de água 
30 pimentas malaguetas 
1 gema 
1 colher (sopa) de mostarda de Dijon 
300 ml de óleo 
Sal e páprica picante

- Modo de preparo:
No liquidificador, bata a água com as pimentas até triturar bem. Passe pela peneira e reserve o caldo. Misture a gema e a mostarda com um fouet e, aos poucos, despeje o óleo em fio, batendo até engrossar. Tempere com sal, páprica e o caldo de pimenta a gosto.

Estrela brasileira empresta textura à receita lusitana
Estrela da culinária tupiniquim, a mandioca virou ingrediente especial também na cozinha do chef português Cristóvão Laruça. Acompanhado por bacalhau confitado e creme de caldeirada, o sagu feito a partir da raiz empresta a textura e o sabor, neutro, à azeitona, muito usada na gastronomia lusitana e responsável por saborizar a receita. 

Imigrante no Brasil há 14 anos, o chef considera o insumo um dos mais emblemáticos da culinária brasileira. “Talvez seja, assim como o bacalhau em Portugal, o mais expressivo do Brasil”, opina.

No prato, ele hidrata o sagu de tapioca em um caldo obtido a partir de azeitonas pretas trituradas e que, depois de peneirado e seco, é levado ao forno por quatro a seis horas. O resultado é uma textura crocante, espécie de telha, que vira pururuca depois de frita. 

“Uni duas grandes referências das duas cozinhas. Mas usei a mandioca de uma forma divertida, diferente do que se vê no Brasil. Aqui, o sagu é sempre associado ao doce (com vinho), tradicional no Sul do país”, comenta o chef. 

Na cozinha dele, a mandioca também costuma aparecer no lugar da farinha de trigo (imprópria para quem é intolerante a glúten) e do amido (feito com milho transgênico) para conferir cremosidade a molhos.

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