Paraíso das aves

Rolinha do Planalto faz do Jequitinhonha o maior ponto de observação do país

Manoel Freitas
O Norte - Montes Claros
04/09/2018 às 06:54.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:16
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Ela é uma ave pequena, que mede de 15,5 a 17 centímetros de comprimento, com cor predominantemente castanha. Mas o reaparecimento da Rolinha-do-Planalto promoveu uma verdadeira revolução em Botumirim, a 170 quilômetros de Montes Claros. O registro do pássaro, em maio de 2015, foi considerado “o feito mais espetacular da ornitologia (estudo das aves) do Brasil nas últimas décadas”, segundo Albert Gallon de Aguiar, biólogo coordenador de projetos da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save).

Considerada extinta há 75 anos, a ave de nome científico Columbina cyanopis, foi encontrada na Serra Geral de Minas, no Vale do Jequitinhonha, o que resultou na criação de uma área de preservação que hoje recebe visitantes de todo o mundo.

De imediato, a ONG que contribui para a preservação de mais de 600 espécies de aves, das quais 40 ameaçadas de extinção, manteve em sigilo o registro por mais de dois anos para garantir uma área de preservação.

Então, no dia 17 de fevereiro de 2018, a Reserva Natural Rolinha do Planalto – área de 593 hectares adquirida com fundos da Rainforest Trust, dos Estados Unidos –, foi inaugurada. 

Naquele momento não nascia apenas uma reserva natural para proteger espécie criticamente ameaçada de extinção, mas o que se transformaria em poucos meses no maior ponto de observação de aves do Brasil.
 
REGISTROS
Menos de uma hora após o lançamento da unidade, o fotógrafo Manoel Freitas, de O NORTE, conseguiu registrar a imagem da Rolinha-do-Planalto, espécie que, segundo estudos científicos, tem apenas 22 indivíduos no planeta.

O feito ocorreu no grupo no qual se encontrava a superintendente Regional do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Margareth Caires; George Wallace, diretor executivo da Rainforest Trust; Pedro Develey, diretor executivo da Save; e Albert Gallon de Aguiar, biólogo coordenador de projetos da ONG que já contribuiu para a conservação do equivalente a 60 mil campos de futebol de Mata Atlântica através da criação de unidades de conservação no Brasil.

No último dia 24, seis meses após o lançamento da reserva, o fotógrafo voltou ao local acompanhado do biólogo Marcelo Lisita, considerado um dos mais respeitados ornitólogos do Brasil.

Em poucos minutos de trabalho de campo, ambos fizeram dois registros importantes da espécie endêmica do Cerrado, também conhecida como Rolinha Brasileira e Pombinha-Olho-Azul: a fotografia de uma fêmea se alimentando e um macho tomando banho de sol.

As imagens são significativas porque ainda são pouco conhecidos os hábitos alimentares da espécie e inexistem estudos sobre a reprodução. A área é tão rica que, além da rolinha, foram feitos registros sonoros, fotográficos e visuais de outras 71 espécies.

A ave muito rara, em função da destruição massiva do Cerrado e pela pequena população, passou a merecer o apoio, além da Rainforest Trust, da Bird Life International, Critical Ecosystem e Fundação Grupo Boticário.

Conservação e estímulo econômico em harmonia
Localizado na Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço, a mais jovem área de proteção brasileira reconhecida pela Unesco em 2005, mesmo sendo a de menor extensão, chama atenção por reunir várias características especiais, como o encontro de três biomas – Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica.

Marcelo Lisita, responsável pela unidade, afirma que, em seis meses, os 593 hectares onde ocorre a Rolinha-do-Planalto receberam observadores de aves de várias partes do mundo, com destaque para visitantes da Rússia, Estados Unidos, Tailândia, Inglaterra, Irlanda e Argentina.

No Brasil, segundo o ornitólogo, a maior visitação ocorre de pessoas de São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Goiás e Brasília. É necessário agendar para que os turistas possam receber da Save toda a logística e infraestrutura necessárias.

Já no lançamento da Reserva Natural Rolinha-do-Planalto, em um trabalho da Save com a comunidade, foi estimulado o artesanato, com confecção de várias peças com o desenho da ave.

Mas os reflexos do turismo de observação de aves – o que mais cresce no mundo, segundo Pedro Develey, diretor executivo da Save –, beneficiou os hotéis e pousadas locais.
 
TURISMO
A botumirense Áurea de Morais, por exemplo, que não tinha suíte na pousada que possui, ampliou as instalações para dez apartamentos dotados de suítes e fechou acordos com oito agências internacionais.

“Em setembro está fechado, não tenho mais vagas. O pessoal de Santa Catarina pediu para aumentar a pousada, dizendo que ‘isso aqui é pequeno para nós’”, contou.
 
PROTEÇÃO
Para discutir um plano de conservação para a Rolinha-do-Planalto, foi realizado, no final de agosto, em João Pessoa, um Congresso de Ornitologia, iniciativa da Save, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) e ornitólogos que trabalham com conservação.

Especialistas de todo o país se reuniram para debater e definir estratégias que garantam a preservação da espécie, que inclui, segundo Marcelo Lisita, “estudos em novas áreas possíveis, educação ambiental, bem como pontear um caminho bem organizado para ser seguido, tudo diante do que já conseguimos coletar aqui de informações sobre seu comportamento, o que é necessário para conservar esses ambientes”.

Para visitar a reserva, é preciso contribuir com R$ 50 pelo dia de visita. Participe do Programa Amigos da SAVE e tenha isenção de taxas. O pagamento pode ser feito por meio de depósito bancário e os comprovantes devem ser enviados para rolinhadoplanalto@savebrasil.org.br.

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