Um autêntico jardim suspenso de bromélias e cactáceas que se entrelaçam com sempre-vivas, liquens, musgos e plantas carnívoras. Em meio a caminhos íngremes, a Trilha do Barão é um banquete completo para os amantes do ecoturismo.

Localizada no Parque Estadual de Grão Mogol, a trilha é um caminho de servidão que atrai visitantes de Minas, do país e de outras partes do mundo. Além do contexto histórico, possui uma beleza distinta em cada época do ano por ser emoldurada por uma vegetação de pequeno porte e campos de altitude.

O caminho é preservado dentro do território de 28.404 hectares da unidade de conservação ambiental criada para proteger as chapadas e a caatinga arbustiva.

A Trilha do Barão possui pouco mais de 20 quilômetros. A maior parte – cerca de 15 km – está dentro do parque. Esse trecho é composto por partes íngremes recobertas por calçamento de pedra construído em meados do século 19 por escravos do barão de Grão Mogol, Gualtér Martins Pereira.

O município teve a origem associada à descoberta de diamantes em fins do século 18 e é hoje um dos principais atrativos turísticos do Norte de Minas. Naquele tempo, atraiu pessoas do Brasil e de diversos países da Europa.

O jornal O NORTE percorreu, com autorização do Instituto Estadual de Florestas (IEF), responsável pela administração do Parque Estadual de Grão Mogol, cinco quilômetros dos caminhos rudimentares e tortuosos da Trilha do Barão.

Segundo a professora da UFMG Ivana Parrela, doutora em História pela mesma universidade, “tem valor histórico e cultural relevante por estabelecer conexão com o passado da cidade e, especialmente, com um personagem bastante citado, mas pouco pesquisado: o barão”.

A professora chama atenção para o significado da trilha como paisagem cultural que, “ao descortinar sua beleza cênica, lembra aos visitantes do parque que essa foi uma região de exploração de diamantes e um caminho importante para transporte de mercadoria e trânsito de pessoas”.

Esses aspectos, segundo Ivana, podem ser destacados em trabalhos científicos, como as pesquisas de arqueologia histórica e ações educativas de conscientização ambiental e patrimonial da população e dos demais usuários do parque, o que se conecta com os trabalhos de conservação de ecossistema, pela preservação de espécies endêmicas da região, tal como o discocactus”.

Percorrer parte desse Cerrado montanhoso, rico em biodiversidade e história da Serra Geral de Minas, na região conhecida por Serra da Bocaina, foi desafio que a reportagem levou cinco horas e meia para completar.

Trilha em grande parte constituída por calçamento bem conservado e por campos de altitude ricos em água e pobres em nutrientes, que a partir de 1.100 metros é tomado pelo vermelho de duas plantas carnívoras – a Drosera Montana e a endêmica Drosera graomogolensis.
 
BUSCA 
Na trilha íngreme, outro desafio era encontrar a Rolinha-do-Planalto (Columbina cyanopis), considerada extinta há 75 anos, quando foi encontrada em 2015 na cidade vizinha de Botumirim por pesquisadores da Save Brasil, considerado o maior feito da ornitologia do Brasil nas últimas décadas.

A ave raríssima não foi vista, mas fizemos registros do Capacetinho-do-Oco-do-Pau (Microspingus cinereus), espécie considerada globalmente vulnerável pela perda do habitat campestre.

A expedição, da qual participou o fotógrafo e ambientalista Lucas Alves, flagrou ainda inúmeras espécies, como a Águia-Serrana (Geranoaetus melanoleucus), Pitiguari (Cyclarhis gujanensis), Tucão (Elaenia Obscura), Chifre-de-Ouro (Heliactin bilophus), Rabo-Mole-da-Serra (Embernagra longicauda), dentre outras.

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