Jasonlina quer se chamar Camila: leitor conta drama de doméstica que luta para mudar de nome

Jornal O Norte
26/09/2005 às 09:47.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:52

Eu tenho um sonho...


(Martin Luther King)

Fica decretado que todos os dias da semana,inclusive as terças-feiras mais cinzentas,têm direito a converter-se em manhãs de domingo.


(Thiago de Mello)

Jasonlina quer ser feliz e a construção dessa almejada felicidade inicia-se necessariamente pelo sucesso do empreendimento da troca do seu nome. É uma questão fundamental para ela. Vê-se que o nome com o qual foi registrada a incomoda severamente. O nome é um estorvo; promotor de um constrangimento inominável; é como estar carregando um peso excessivo pela vida afora.

Jasonlina tem um sonho: quer se chamar Camila.

Ela nasceu em 13 de agosto de 1985 no município de São João da Ponte. O nome Jasonlina – ao mesmo tempo extravagante e estranho – foi inventado pelo seu pai, Jason. Antes de completar 18 anos de idade ela fizera a primeira tentativa para se livrar desse insensato, esdrúxulo, esquisito, excêntrico, bizarro e infeliz nome que a persegue como uma dor de dente interminável. Essa primeira tentativa foi infrutífera, porque carecia da autorização dos pais, a fim de que o advogado pudesse dar entrada com os papéis. Seu pai, no entanto, muito desconfiado, entendeu que sua assinatura serviria para desencadear especulações na repartição da herança da família. Por esse motivo, não assinou.

Quando completou idade suficiente para assumir esse pleito perante a justiça, ela procurou a defensoria pública. O procedimento, até hoje, não rendeu nada.

Um dia, eu estava conversando com uma amiga que cursa Direito na Faculdade Santo Agostinho e vislumbrei uma solução para o caso sob exame. Essa estudante sugeriu que Jasonlina a procurasse naquela instituição de ensino, onde ela, sob a orientação de um professor, desenvolve o seu estágio; todas essas cautelas com o intento de levar ao conhecimento da justiça, mediante ação própria, e peticionar a solução mais favorável para a questão.

Assim foi feito. A primeira idéia foi a de que Jasonlina deveria propor a substituição desse nome pelo de Jasinha.

Jasonlina é empregada doméstica e trabalha em minha residência há quase três anos. Quando ela chegou da reunião que tivera com a estagiária, o semblante que ostentava não era o de uma pessoa que recebeu uma boa notícia. Pedi-lhe para que falasse sobre o que ficou resolvido. Ela disse-me que o nome Camila não pode e que o nome que será apresentado ao juiz será mesmo o de Jasinha. Era o retrato da decepção.

Uns dias depois, eu conversei com a estagiária sobre a reação de Jasonlina diante da solução que estavam propondo. Disse-lhe objetivamente o que colhi das impressões da interessada. Jasonlina não quer assumir nenhum novo nome que tenha ligação com o anterior. Esse nome extravagante e estranho trouxe-lhe um verdadeiro trauma. Por isso, todos os nomes periféricos lembrar-lhe-iam sempre que um dia ela se chamou Jasonlina. Estão descartados – sob essa ótica –, nomes como: Josy, Jássia, Jussara, Joyce, Jéssica e outros análogos e até mesmo Jasinha.

- Esse, inclusive - diz ela - nem é nome, é um apelido; não conheço pessoa alguma que tenha esse nome.

A propósito deste último – Jasinha –, depreende-se de suas palavras que ela deixaria um nome extravagante e estranho e passaria a ter um que não é extravagante, mas é estranho.

E praticamente indaga:

- Por que eu tenho que ter um nome que me lembre o outro, o antigo, o abominável? Eu quero ter um nome como todas as pessoas têm, um nome normal, um nome bonito.

E conclui, enfática:

- Camila.

Jasonlina nunca roubou, nunca matou, não tem débito de natureza tributária ou previdenciária, está quite com o comércio e com as pessoas; enfim, não está querendo se camuflar para fugir de responsabilidade para com o erário ou para com a sociedade. Ela está querendo simplesmente ter um nome normal, bonito, e a partir daí, ser feliz.

Edvaldo Nazareno Carvalho Faria

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