Desenho e som na pele

Técnica criada por norte-americano permite uma nova experiência com as tatuagens

Patrícia S. Dumont
Hoje em Dia - Belo Horizonte
15/09/2018 às 07:25.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:28

Gravar um som na pele parece coisa dos filmes de ficção científica, mas já é possível ter no corpo desenhos que podem ser ouvidos. Espécie de carimbo de um fragmento de áudio, as soundwave tattoos (tatuagens de ondas sonoras, em português) vão além das figuras até hoje usadas para eternizar passagens marcantes da vida, passar certo ar de rebeldia, revelar ideologias ou ficar na moda.

A novidade surgiu nos Estados Unidos, onde um tatuador deixou em segundo plano o papel original dos desenhos feitos com agulha e tinta (o visual) para propor essa memória extra ao cliente.

“É uma combinação entre processamento de áudio, reconhecimento de imagem, visão computacional e computação em nuvem, que cria uma experiência de realidade mista”, detalha Nate Siggard, inventor da técnica, que deu origem também a um aplicativo para ser baixado no celular.
 
PASSO A PASSO
Na prática, a ferramenta funciona da seguinte forma. O cliente escolhe um trecho de som – pode ser música, a voz de uma pessoa querida ou até mesmo o latido do cachorro de estimação –, que é transformado em ondas sonoras “desenháveis” e, então, reproduzido na pele.

Para que a tatuagem funcione para sempre, é importante que o traço seja preciso e reproduzido na área mais plana possível do corpo –a parte interna do antebraço é a mais indicada pelo profissional. “Tatuagens sonoras curvas não funcionam”, alerta o profissional, que, agora, procura parceiros para multiplicar a ideia ao redor do mundo.

Por enquanto, somente Nate tem a expertise para reproduzir as ondas sonoras na pele dos t atuados. Para completar o “serviço”, ele também desenvolveu um aplicativo de leitura das imagens, o Skin Motion®, que pode ser baixado no celular, permitindo, assim, ouvir o registro.

Inicialmente, o cliente paga US$ 39,99 (aproximadamente R$ 166) para “ativar” o som na ferramenta. A partir daí, uma vez por ano, paga uma espécie de aluguel pela manutenção do serviço, ao custo de US$ 9,99 (cerca de R$ 41). O tatuador garante aos clientes o funcionamento de todos os trabalhos que faz.
 
EXPERIÊNCIAS
No site do Skin Motion® é possível testemunhar experiências que deram certo. Em uma delas, uma moça escolheu eternizar na pele do braço o som emitido pela cachorrinha de estimação. Em outra, um casal reproduziu o “eu te amo” dito um ao outro nos respectivos bíceps.

Nate Siggard explica que é possível não só personalizar o desenho escolhido, preenchendo todo o interior do estêncil (modelo que é feito, antes, no papel) ou fazendo só o contorno, por exemplo, mas tatuar mais de uma onda sonora no corpo.

Pré-requisito, no entanto, é que as imagens sejam aplicadas em partes diferentes da pele e nunca lado a lado. “Considere colocá-los em diferentes áreas do corpo para que não haja duas ondas sonoras aparecendo juntas na tela do app”, justifica.

Tatoo feita com cristal de quartzo
Mais do que um registro perene na pele, a tatuagem desenvolvida pela artista gaúcha Paola Alfamor, de 28 anos, é um rito sagrado. Construídos ponto a ponto por meio da técnica hand poked – um método ancestral, totalmente manual –, os desenhos dela são delineados por um agrupamento de agulhas fixados em um cristal.

O objetivo, explica a tatuadora, que vive atualmente em São Paulo, é criar uma atmosfera propícia para um ritual completo de limpeza energética, tanto do ambiente quanto dos envolvidos no processo. “Sem o ruído da máquina (elétrica, a convencional), crio outro ambiente, muito mais especial”, diz.

O uso do cristal, segundo ela, está ligado à energia que é capaz de transmutar. “Fixo a agulha em um cristal de quartzo porque acredito nas propriedades que tem, no poder de cura e de limpeza energética dos corpos físico e espiritual. Dessa forma, a agulha funciona como condutora de energia, emanando vibrações canalizadas no cristal e expandidas enquanto a tatuagem é feita”, detalha.

Para ela, tatuagem é mais que uma marca externa, surge da vontade e da intenção por trás do desenho. “É um processo que merece atenção e respeito, é como um portal visual na pele, um símbolo de poder”, acrescenta Paola.
 
LIMPEZA
Não somente a agulha é esterilizada. O cristal usado na tatuagem também passa por banhos com sal, fica em contato com a selenita (cristal que favorece a espiritualidade) e ainda é lavado com água corrente. A ideia é promover uma descarga das energias acumuladas nos trabalhos anteriores. Reenergizada sob a luz da lua ou do sol, a peça é “reprogramada” a cada novo trabalho. “Só tatuo artes minhas e uso muita meditação para me concentrar e receber as inspirações para cada indivíduo”, acrescenta.
 
DELICADO
Mais delicada e, portanto, menos invasiva, a técnica hand poked utiliza somente a força da mão para imprimir o desenho na pele. Por este motivo, segundo Paola Alfamor, é também menos dolorosa e promove uma cicatrização mais uniforme e rápida. “Não é tão agressiva como a maquininha, que ‘rasga’ a pele. Como o desenho é feito ponto a ponto, não há tanta irritação e praticamente não há sangue”, detalha a tatuadora.

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