Círculo de cura

Mandalas equilibram ambientes, atraem abundância e inteligência emocional

Patrícia Santos Dumont
Hoje em Dia - Belo Horizonte
30/03/2018 às 07:30.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:05

Surgiram há milhares de anos e se popularizaram nos livros de colorir. Tecidas, pintadas ou construídas a partir de grãos de areia e até de pedacinhos de vidro, as mandalas são mais do que desenhos bonitos. Instrumentos de cura usado por índios e monges, os círculos, cuja definição deriva do sânscrito, são uma poderosa ferramenta terapêutica para atrair abundância, amenizar conflitos, resgatar a criatividade e a inteligência emocional e alinhar a conexão do ser com a própria consciência.

Originalmente, os desenhos são formados por um círculo, representação do limite entre o divino e o mundano, a consciência e a inconsciência, a matéria e a alma; um ponto central, caracterizando uma existência superior, o Deus de cada um, e a simetria com repetições, simbologia da vibração de cada figura.
 
HARMONIZAÇÃO
Professora da prática psicanalítica, Virgínia Fernandes utiliza as mandalas multicoloridas para acessar conflitos inconscientes e restabelecer o equilíbrio dos pacientes. Explica que as figuras não só revelam sonhos, desejos e angústias, mas contribuem também para a harmonização psíquica do ser.

O uso terapêutico da ferramenta se dá de diversas formas, diz a profissional. Apresentação de desenhos para serem coloridos pelo paciente; estruturas prontas para contemplação ou meditação e confecção de mandalas livres, sem interferência de terceiros, são algumas possibilidades.

Segundo a psicanalista, cores, formas, símbolos e outros elementos colocados ou percebidos nas peças têm relação direta com emoções, pensamentos, crenças e sensações, geralmente reprimidos tanto pelo autor da mandala quanto pela pessoa que a escolhe.

“A atração pode ser direcionada não apenas por causa do conflito e/ou emoção que esses elementos expressam, mas pelo significado guardado por cada símbolo presente na mandala”, explica a psicanalista.

Como objetos de decoração, mandalas têm efeito reenergizante do ambiente onde ficam expostas. “O que pode ocorrer é que quando uma pessoa conquista seu equilíbrio interior isso de alguma forma reflete também no ambiente onde ela vive”, diz Virgínia Fernandes.
 
RECONEXÃO
Artesã mandaleira há 4 anos, Kátia Erbiste, do Rio de Janeiro, já confeccionou mais de três mil desenhos nos cursos que ministra on-line e presencialmente. Toda mandala, diz ela, exerce influência sobre a conexão com a consciência. “Ao tecer, entramos em nosso santuário, local de conforto e criatividade que nos desliga do eu projetivo (que olha para passado e futuro), nos trazendo de volta ao eu experiencial (que vive o instante)”, explica.

Tratamento com arte
No cinema, as mandalas ganharam destaque ao serem usadas de forma terapêutica pela personagem da atriz Glória Pires em “Nise - O Coração da Loucura” (2015). O filme narra a história da alagoana Nise da Silveira, que se tornou referência nacional na psicologia analítica. A psiquiatra foi uma revolucionária médica brasileira, pioneira no uso da arte no tratamento da esquizofrenia, doença que provoca alucinações, agitação e isolamento.

Naquela época, os hospitais psiquiátricos se assemelhavam a presídios. Neles, os pacientes eram medicados indiscriminadamente e tratados com eletrochoques e lobotomia (cirurgia para retirada de parte do cérebro). Nise apostou no inverso: tentava a cura utilizando pintura e modelagem em uma sala improvisada e a contragosto dos colegas do hospital.

Para entender os desenhos produzidos pelos internos, a psiquiatra mergulhou na obra do psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung e descobriu que era por meio das figuras que eles não só externavam os incômodos pessoais, mas permitiam ser tratados e, aos poucos, retomavam o convívio familiar.

Segundo Nise da Silveira e Carl G. Jung, as formas circulares das mandalas eram tentativa de reorganização mental do esquizofrênico.

SAIBA MAIS

Figura geométrica que aparece em diversas culturas como elemento que sintetiza a plenitude da vida, a mandala é formada por imagens que se sobrepõem formando um entrelaçado de símbolos. Reza a lenda que surgiram no século 8 Antes de Cristo, tendo sido usadas como expressão artística e religiosa. 

Ainda hoje são empregadas como instrumento de concentração para atingir estados superiores de meditação, sobretudo no Tibete e Japão.

Nas aldeias dos índios navajos, na América do Norte, os círculos coloridos eram usados para curar ou harmonizar a alma de uma pessoa doente. Depois de o xamã pintar a mandala na areia, o paciente era colocado para andar ao redor dela e em seguida ocupava um lugar no centro da figura.

Monges tibetanos também usam figuras feitas na areia como exercício de desapego. Após investirem horas e até dias na criação das mandalas, dul-tson-kyil-khor, como são chamadas, eles simplesmente as destroem. O objetivo é enfatizar a inconstância e fugacidade da vida. Alguns punhados da areia são distribuídos ao público e o restante jogado em lago ou rio próximo ao local de confecção.
 
Na psiquiatria, o suíço Carl G. Jung observou que os esquizofrênicos dispunham figuras em círculos instintivamente para reorganizar a própria imaginação. A psicologia moderna acredita que a mandala sirva para revelar a estrutura mais profunda do espírito humano.
 
Na técnica chinesa do Feng Shui, o ba-guá, figura que define caminhos da energia, nada mais é do que uma imagem mandálica. O desenho de oito pontas é espécie de mapa para harmonizar os ambientes. 

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