Além do chá com biscoito

“Bebida da Rainha” pode acompanhar pratos doces, salgados e até drinks

Patrícia Santos Dumont
Hoje em Dia - Belo Horizonte
15/12/2017 às 19:11.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:16
 (Pedro Gontijo)

(Pedro Gontijo)

Quando o assunto é chá, há quem torça o nariz. Bebida milenar, consumida em grande quantidade, principalmente nos países orientais, no Brasil ela ainda é rodeada por tabus. Versátil, entretanto, vem aos poucos se revelando um verdadeiro curinga não só na companhia de biscoitos e bolos, mas, acreditem, como par perfeito de drinks e até de pratos salgados e doces.

Bacharel em gastronomia e estudiosa de chá há mais de dez anos, Ana Splenger costuma compará-lo ao vinho. Com uma diferença, aponta: “Considero-o ainda mais democrático, já que abrange até quem não consome álcool”, justifica.

Coordenadora dos cursos de culinária e harmonização no Instituto Chá, em São Paulo – primeira instituição a inaugurar, no Brasil, um curso de formação em sommelier da bebida –, a profissional explica que é possível utilizar as ervas, preparadas ou “cruas”, como acompanhamento ou tempero. Vale a máxima da combinação por semelhança ou contraste, ensina. 

“Me incomoda colocar como regra, já que a harmonização é uma experiência muito pessoal, individual. O ponto de partida, entretanto, é combinar as intensidades: pratos mais leves com chás delicados e os condimentados com bebidas mais intensas e encorpadas”, detalha, fazendo referência à harmonização. 
 
CHÁ BRANCO
A exceção à “regra” fica por conta do chá branco. De sabor suave, delicado e aroma sutil, ele não deve ser combinado à mesa. “Dificilmente encontraremos um alimento que não diminua a percepção da delicadeza do chá branco, cuja produção, limitada, é feita com brotos e as primeiras folhas da planta, numa colheita manual superdelicada. Ele merece ser apreciado sozinho”, pondera. 

Mais do que saber combinar, é importante ter conhecimento sobre a origem, tradições que envolvem o consumo e, principalmente, sobre os diferentes tipos e formas de preparo adequadas a cada um. 

Sommelier de chá em Belo Horizonte e proprietária da loja virtual Camellia Chás, Daniella Perdigão ensina alguns macetes para os marinheiros de primeira viagem fazerem bonito. 

Genuinamente, só podem ser chamadas de chás infusões preparadas com Camellia sinensis – espécie da família Theaceae, popularmente conhecida como chá ou chá-da-Índia.

Temperatura da água, tempo de infusão e até o material do recipiente onde será preparado influenciam no sabor da bebida. Em relação à qualidade, um bom balizador é o preço, destaca a profissional. Quantos mais caros, melhores.

“Em casa, o ideal é usar um termômetro culinário ou uma chaleira que meça temperatura, mas os chineses usam muito a observação. Começaram a subir as primeiras bolhinhas, a água está a 70, 75°C; ficaram um pouco maiores, 80°C”, descreve, lembrando que cada tipo de erva exige uma temperatura. 

O principal sinal de um preparo errado de chá é o amargor, típico de infusões demoradas; chás pretos, por exemplo, devem ficar em infusão por no máximo 5 minutos, e os verdes, por 4
Infusões de qualidade podem ser usadas até três vezes após o primeiro preparo; na culinária, o “resíduo” pode ser guardado na geladeira e usado em até dois dias como tempero; frescas, as ervas podem ser adicionadas diretamente às receitas

  

Beba com moderação
Verdade seja dita: chás e infusões vêm conquistando espaço nas cozinhas e se misturando a ingredientes finos da alta gastronomia. Mas, desde que o mundo é mundo, fazem parte da cultura popular ao serem lembrados para aliviar desconfortos físicos e até curar doenças. 

A farmacêutica Ana Cimbleris que o diga. Especialista em plantas medicinais, ela produz e vende espécies para essa finalidade, além de ministrar cursos e palestras educativas direcionando as escolhas para cada necessidade. 

“Toda a população brasileira, de Norte a Sul do país, já faz um uso das plantas medicinais, uma prática de domínio popular. O que acontece é que muitas vezes não se conhece detalhes importantes, como a interação com medicamentos e a dosagem correta”, diz.  

EFEITOS COLATERAIS
Ela reforça, ainda, que plantas medicinais têm química na composição e que, portanto, podem levar a efeitos colaterais como reações alérgicas, quando administradas incorretamente. 

“É bom ter cuidado com plantas que entram na moda, cujos benefícios são propagados sem nenhum embasamento científico, somente com interesse comercial. O confrei, por exemplo, virou uma panaceia, pois disseram que poderia curar diversos tipos de doença. No entanto, é uma planta tóxica, se consumida. Já o hibisco em excesso pode ser ruim para os rins, devido ao efeito diurético”, exemplifica a farmacêutica.

Ana Cimbleris também chama a atenção para a dose adequada dos preparos. O ideal é usar de uma a três colheres de chá da planta para cada xícara de água.

Plantas pouco conhecidas e de uso prolongado devem ter indicação médica para não provocarem efeitos indesejados
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