Os casos de aids entre negros e pardos apresentaram avanço no Brasil. É o que aponta o boletim epidemiológico do ano passado, o primeiro a fazer um recorte racial sobre a doença. Até aquela avaliação, o Brasil registrava um total de 362.364 casos de aids, computados desde o início da epidemia, em 1980.
Entre 2000 e 2004, caiu de 63,9% para 56,7% o percentual de casos da doença entre mulheres que se disseram brancas. Entre homens, foi de 65,5% para 62%. Entre mulheres pretas e pardas, o registro da doença aumentou de 35,6% para 42,4%. Entre homens, cresceu de 33,4% para 37,2%.
A avaliação foi feita sobre cerca de 30% do total de casos de aids, aqueles que informaram a cor. Em razão disso, o governo quer uma melhora dos dados e mais tempo de acompanhamento.
POBREZA
Pesquisa do ministério mostrou que o conhecimento sobre a transmissão do HIV é melhor entre brancos do que entre negros. As doenças infecciosas acompanhariam o caminho da desigualdade, avalia Jurema Werneck, coordenadora da ONG Criola, militante do movimento negro.
O Atlas racial brasileiro 2004 mostrou que 50% da população negra estão abaixo da linha de pobreza, além de ter menor esperança de vida ao nascer, menor escolaridade e menos acesso aos serviços de saúde - 1,83 consulta por ano, contra 2,29 dos brancos.
Pesquisa da Fundação Perseu Abramo e do Instituto Rosa Luxemburgo revelaram, em 2003, que 3% da população brasileira já se sentiu discriminada nos serviços de saúde. A maioria dos negros sofreu a discriminação no hospital. O fato fundamental é o racismo, que traz essa desigualdade imensa, segundo Werneck.
DESIGUALDADE
No estado de São Paulo, que concentra a maior parte da epidemia (139.331 casos), segundo o governo, os esforços serão para diminuir a desigualdade entre mulheres e homens. A doença continua a recuar mais lentamente entre elas, mostram dados divulgados nesta semana.
A taxa de incidência da doença naquele estado caiu pelo quinto ano consecutivo. Entretanto, de meados da década de 1990 a 2003, houve redução de 1,7 vez entre homens - foi de 1,5 vez entre mulheres.
- Temos que pensar que ainda vivemos em uma sociedade machista, em que a questão do preservativo não está resolvida. Temos que educar nossas filhas - afirmou Maria Clara Gianna, coordenadora do programa estadual de aids.