‘Paguei pelos meus erros”

Ex-Galo, Ramon reconhece falhas, revela dramas pessoais e projeta mais um recomeço

Frederico Ribeiro
Hoje em Dia - Belo Horizonte
30/01/2018 às 06:56.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:02
 (Arquivo / hoje em dia)

(Arquivo / hoje em dia)

“Não é sobre quão duro você bate. Se trata do quanto você aguenta apanhar e seguir em frente”. Quando a frase de Rocky Balboa chegou às telas de cinema, o meia-atacante Ramon era considerado uma das grandes joias do futebol brasileiro. A filosofia do personagem de Sylvester Stallone sintetiza o que o jogador, hoje aos 30 anos, vivenciou no mundo da bola. 

De diamante do Atlético aos 17 anos, quando foi campeão sul-americano e vice mundial da categoria, Ramon foi para a Rússia, voltou ao Brasil, teve chances em outros grandes clubes e viu a carreira tomar um rumo inesperado, mas explicável. Longe dos holofotes, assinou com o Barretos, que disputa a Série A3 do Campeonato Paulista.

Nesta entrevista, o mineiro de Nova Era comenta a saída repentina do Democrata-GV, lembra as baladas e os erros cometidos, mas também revela dramas pessoais. 
 
Você seria uma das figuras do Campeonato Mineiro. O que aconteceu para sair do Democrata-GV antes de estrear?
Eu tinha uma proposta financeiramente melhor antes do Democrata. Mas era a chance de voltar ao futebol mineiro e jogar perto da minha cidade. Fiquei treinando 45 dias com aval da comissão técnica. Então, eles alegam que havia deficiência física e técnica minha e do Mateus (zagueiro, ex-Cruzeiro e Boa). Um jogador com meu currículo, que jogou em grandes times, falar de deficiência técnica? Ficou nítido que foi algo pessoal. Mas isso já passou, estou em outro clube. Me acostumei a tomar essas porradas do futebol. É mais um recomeço de alguns que já tive.
 
Perto dos 30 anos, como avalia sua trajetória?
Tive ótimos momentos. Além do surgimento no Atlético, fui muito bem na Rússia, com lembranças positivas e títulos. Lógico que poderia estar num lugar melhor agora, sei da minha capacidade. Mas, infelizmente, fazemos escolhas erradas na vida. Todo ser humano erra, comigo não foi diferente, até porque muita gente não sabe o que eu vivi. As pessoas que não me conhecem acham que o Ramon é maluco, que é um cara do mal. Eu nunca fiz mal a ninguém, a verdade é essa. Não sou uma pessoa ruim, nunca precisei passar ninguém para trás para conseguir algo. Fiz escolhas ruins e paguei por isso. Mas também fiz coisas boas. Ajudei a minha família a ter condições melhores, coloquei comida no prato de muita gente. Mas isso não vira notícia, não é interessante.
 
Quais foram esses “erros”? As noitadas, excesso de álcool, ou drogas?
Eu surgi muito novo, com 17 anos fazia a minha estreia no Atlético. Então, algumas coisas foram difíceis de lidar com tranquilidade. Acabei curtindo muito a noite, baladas. Mas droga eu nunca usei. Com pouca idade, eu passei a ter uma situação financeira boa, podia comprar tudo que eu desejava. Errei, como toda pessoa estaria sujeita sob essas condições.
 
No Atlético, você surge como joia, mas num período ruim do clube... Qual sua relação com o Galo atualmente?
Relação de torcedor. Fui em alguns jogos em 2013, na Copa Libertadores. Tenho contato com alguns funcionários lá, como o Belmiro (massagista) e o Domênico (Bhering, diretor de comunicação). Visitei o CT e sempre tento ajudar a molecada da base. Sou muito grato ao Atlético, pois foi o clube que levou a minha família a ir para um lugar melhor, a comprarmos uma casa. Saí porque o Atlético precisava de dinheiro.
 
Como foi o período na Rússia?
Muitas lembranças boas. Fui campeão lá, fiz muitas amizades, tinha brasileiros, o Jô, que depois brilhou no Atlético e é um grande amigo... Fui treinado pelo Zico... Uma experiência maravilhosa, em quatro anos e meio.  
 
Da Rússia, você chega ao Flamengo, emprestado. Depois, passa por Bahia, Náutico, e começa a defender times pequenos: Remo, depois Brasiliense, Goianésia, Rio Verde-GO, Araxá, Democrata-SL. Neste período, viveu o nascimento do seu filho, mas teve talvez a maior tristeza da vida...
Sim, foi quando meu pai adotivo morreu. Sou criado por dois pais adotivos. Me deram uma infância sem faltar nada. Meu pai é meu maior ídolo e ele faleceu há três anos. Isso foi um grande baque na minha vida. Ainda tive o problema da minha irmã. Hoje, ela está recuperada. Mas se meteu numa vida errada, se envolveu com drogas. Eu fiquei fraco no momento em que tinha de ser forte.
 
Se fosse possível, o que o Ramon de 30 anos falaria para aquele de 17?
Diria para ele ter boas escolhas de amizade, e não se apegar à fama. Acima de tudo, ser profissional. Saber que é preciso se cuidar, que a balada terá o momento certo. Infelizmente, tive que apanhar da vida. Mas sou um Ramon com outra cabeça, outro pensamento, amadurecido. Hoje, tenho um filho de seis anos, cumpro minhas responsabilidades e tenho toda disposição para seguir a carreira.

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