O medo de Buglê

Autor do primeiro gol do Gigante da Pampulha teve receio de errar o lance

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O Norte - Montes Claros
06/09/2018 às 06:33.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:18
 (ARQUIVO/HOJE EM DIA)

(ARQUIVO/HOJE EM DIA)

O jornal O NORTE reproduz, na íntegra, a matéria publicada pelo extinto “Diário de Minas”, no dia 6 de setembro de 1965, que retrata o vestiário da seleção mineira logo após a vitória por 1 a 0 sobre o River Plate, da Argentina, na partida que marcou a inauguração do Gigante da Pampulha, no dia 5 de setembro de 1965.

Cinquenta e três anos depois, segue o texto completo, que teve o seguinte título: 

“Medo de errar quase leva Buglê a chutar o gol fora”.
 
“Mas que medo de errar, puxa vida. Já pensou o que seria de mim se eu não marcasse aquele gol? Não gosto nem de falar”. Isto foi o que o armador Buglê disse ao seu reserva, Edson, durante uma conversa no vestiário muito alegre dos mineiros, logo depois que terminou a vitória de 1 a 0 da seleção sobre o River Plate, na estreia do Estádio Minas Gerais.

Vicente Feola, Belini, Mendonça Falcão, Felício Brandi e Mozart Di Giorgio foram ao vestiário cumprimentar os jogadores da seleção mineira, que não quiseram inaugurar as banheiras térmicas do Estádio Minas Gerais. Gérson dos Santos gritava bem alto que todos estavam dispensados até hoje, às 8 horas, enquanto os jogadores preferiram não comentar o jogo, se limitando a dizer que “os argentinos gastam a botina de acordo e sabem morder direitinho, sem deixar o juiz ver”.

UM JOGO ANALISADO
Ainda com o calção preto, da FMF, e vestindo uma camisa branca, aberta no peito, Gérson dos Santos disse que o jogo tinha que ser vencido mesmo pela seleção mineira, já que os argentinos foram pouco objetivos. “O River Plate sabe jogar, corre livre e deixa o adversário correr livre também, fazendo um ótimo bloqueio apenas na entrada da área”.

Segundo o técnico Gérson dos Santos, a seleção mineira poderia fazer mais gols, o que não aconteceu apenas pela expulsão do ponta-esquerda Tião. Gérson dos Santos explicou que “a seleção faz todo o seu ataque pela esquerda, explorando a boa forma de Tião, mas depois que ele saiu complicou tudo e foi obrigado a recuar Tostão, deixando apenas Wilson Almeida e Silvestre um pouco adiantados”.

Wilson Almeida estava bastante chateado depois que tomou um banho rápido, porque saiu mais cedo, culpa de uma contusão no tornozelo esquerdo, que estava muito inchado. Já Dirceu Lopes e Buglê eram os mais alegres e cumprimentados também. Buglê, depois do banho, vestiu uma bermuda, apanhou uma laranja e saiu com o reserva Edson pelo corredor do Estádio, xingando muito a botina dos argentinos do River Plate.

O técnico da seleção brasileira, Vicente Feola – sem mostrar que estava com sono – foi um dos primeiros a chegar ao vestiário todo molhado dos mineiros, porque havia um cano furado. Feola chegou junto com o presidente da Federação Paulista de Futebol, Mendonça Falcão, e vestia um terno marrom muito sujo, camisa social branca, gravata de seda azul e um sapato tipo italiano marrom. O técnico da seleção brasileira foi logo procurando por Buglê para cumprimentá-lo pelo primeiro gol oficial no Estádio Minas Gerais, e depois perguntou ao supervisor Wilson Gosling quem era o menino Dirceu Lopes. O armador do Cruzeiro ficou muito emocionado ao ser procurado por Vicente Feola e quase não conseguiu agradecer aos cumprimentos. Logo em seguida foi a vez de Décio Teixeira, um velho conhecido de Feola.

Já o jogador Belini – com um terno de tropical inglês cinza claro – ficou conversando por muito tempo com Silvestre, seu velho amigo. Numa entrevista coletiva dentro do vestiário – a esta altura já completamente lotado – Belini afirmou que estava tão emocionado na hora do jogo, que deu até vontade de entrar no campo e “correr contra os gringos, nossos velhos adversários no futebol”.

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