‘Estudei para ser treinador’

ENTREVISTA - Guilherme de Cássio Alves - ex-jogador e atual Técnico do Paysandu

Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
28/07/2018 às 07:54.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:38
 (PAYSANDY/DIVULGAÇÃO)

(PAYSANDY/DIVULGAÇÃO)

Ex-jogador de Atlético e Cruzeiro, técnico afirma que dominar o vestiário é fundamental

Goleador, autêntico, presidente da resenha e um dos maiores artilheiros da história do Atlético. Com 139 gols em 205 partidas com a camisa preta e branca, Guilherme de Cássio Alves é o sétimo nesta lista de goleadores. Aos 44 anos, ele assumiu há menos de um mês o desafio de, como técnico, comandar o Paysandu na Série B do Brasileirão. Para se dar bem na função que exerce há sete anos, ele usa os ensinamentos de Telê Santana e a experiência vivida dentro das quatro linhas como atleta.

Nesta entrevista exclusiva à coluna Papo em Dia, do Hoje em Dia, concedida na última quinta-feira, Guilherme volta ao passado para relembrar os momentos vividos como jogador do Atlético e também quando virou a casaca, em 2004, para defender o arquirrival Cruzeiro.

Além disso, durante a conversa, o ex-camisa 7 conta como foi a experiência na Arábia Saudita, onde defendeu o Al-Ittihad, conta como foi a saída do Vasco, em 1999, para defender o Galo, e muito mais.

Dentro de casa, Guilherme diz ter uma joia em processo de lapidação. O filho João Guilherme, de 9 anos, já se destaca nos campeonatos e mostra ter o mesmo talento e DNA de goleador do pai.  
 
Neste ano tivemos a aposentadoria do Ronaldinho. Em 1998, a primeira assistência da carreira dele foi para um gol seu no Grêmio. Como foi conviver com uma estrela mundial lá no início da trajetória dele?
Vê o que ele se tornou depois é interessante. O pegamos bem no início. Quando eu cheguei, ele treinava conosco e já era tudo aquilo que todo mundo esperava: uma grande promessa do Grêmio e se falava muito dele. Quando ele subiu, vimos que ia decolar. São poucos aqueles que vão chegar no nível que ele chegou.
 
Hoje, a Arábia Saudita ressurge como o grande mercado para jogadores brasileiros. Você chegou a jogar por lá. Foi o seu auge, economicamente falando?
Eu já ganhava muito bem no Brasil, mas teve uma diferença grande a ida para lá. Eu sabia na época que era uma cultura diferente, mas chegando lá, vê que é muito mais. É difícil a adaptação. Existem países que não são totalmente fechados, mas lá é. A adaptação não é fácil. Financeiramente foi bom.
 
Você fez 205 jogos pelo Galo e marcou 139 gols. Como foram os bastidores da sua saída do Vasco para o clube, em 1999?
Eu estava concentrado para um jogo do Vasco contra o Sport. O Gilmar Veloz, empresário, me ligou e disse que estava levando o Veloso para o Atlético e que eles queriam um atacante. Me perguntou se eu queria, negociou o salário e eu fui. Não relutei. Na época eu tinha um bom contrato com o Vasco e só não queria ganhar menos.

A dupla Guilherme e Marques virou uma verdadeira marca no Atlético. Foi o seu casamento mais perfeito no futebol?
Lógico. Onde eu passo ou onde ele passa, vai ficar marcada uma das maiores duplas do futebol brasileiro. Não tenha dúvida alguma. Deu certo, foi uma coisa impressionante. A gente mantém a amizade até hoje.
 
O Marques hoje é coordenador das categorias de base do Atlético. Acha que essa dupla pode pintar no clube, em breve, mas numa função fora das quatro linhas?
O mundo do futebol é muito dinâmico. A gente está vendo as mudanças constantes, principalmente no Brasil, onde ainda não temos uma postura profissional das diretorias para saber analisar o trabalho e não só os resultados, suportar a pressão de imprensa e torcida para bancar o treinador, mas é lógico que seria interessante ter essa parceria novamente.
 
Você viveu no Atlético um período em que o time era muito competitivo, mas o clube se afundava em dívidas. Muitos daqueles jogadores recorreram à Justiça para cobrar débitos com o Galo. Você deixou o Atlético ‘perdoando’ alguma dívida? Se aposentou com todos os clubes tendo compromissos quitados com você?
O único que me deve como jogador é o Botafogo. E me deve bastante. Eu sempre facilitei tudo para o Atlético. Até porque não poderia ser mal agradecido com o clube. Não tive nenhum problema, não coloquei e jamais colocaria o Galo na Justiça.
 
Agora você trabalha no Paysandu, conseguiu vencer após oito jogos de jejum. O que te surpreendeu quando chegou ao futebol do Norte?
Cara, só surpresa boa. A estrutura que nós temos aqui é brincadeira. É excelente. O estádio totalmente reformado, com um hotel excelente. A comida é excelente e o clube é muito bem estruturado. Estão com o pagamento em dia. Eu não esperava tudo isso. Temos um executivo de futebol que conhece tudo. O Paysandu já vem pagando dívidas e melhorando a estrutura há cinco, seis anos. 
 
Você atuou pelo Cruzeiro. Logo no primeiro clássico contra o Atlético, fez gol e comemorou com a camisa da maior organizada do clube celeste. Em 2004, tinha um time até superior ao do ano anterior, da Tríplice Coroa. Por que não deu tão certo?
No papel é uma coisa, na prática é outra. A saída do Vanderlei (Luxemburgo) atrapalhou demais. Acho que houve um entrevero entre ele e o Zezé (Perrela), a gente não sabe muito bem o que aconteceu, mas atrapalhou muito. Era um time muito acima da média, mas infelizmente não deu certo em campo. Não deu liga. Muito abaixo do que esperávamos.
 
Pela idolatria que tem com os atleticanos, aceitaria novamente vestir a camisa celeste?
Na época foi uma situação de profissional. Estava voltando da Arábia, num momento difícil. Foi no ano em que os Estados Unidos invadiram o Iraque, e a Arábia era aliada a eles, então começamos a ter problemas de bombas por lá. Então pedi à Fifa para ir embora. Chegando no Brasil, me ligaram e eu aceitei. Isso é profissionalismo. Você sabe por que eu joguei no Cruzeiro? Porque em todo tempo que eu estive no Atlético eu nunca fiz piada do Cruzeiro e nem quando estava no Cruzeiro eu fiz piada do Atlético. A partir do momento que você respeita e entende que é somente um rival dentro de campo e que fora é preciso respeitar a instituição, vê que não é inimigo. Estamos vivendo um momento de intolerância, então é preciso tomar cuidado e entender que é somente um rival.
 
E qual o estilo do Guilherme treinador? Qual o seu perfil nessa função iniciada em 2011, quando comandou o Ipatinga? 
Olha, quando eu parei de jogar futebol, nada contra aqueles que se tornaram treinadores de imediato, mas eu fui estudar e me preparar. Fiquei quase cinco anos me preparando para me tornar treinador. Tive a transição completa. Sou ex-atleta. Trabalhei com os melhores treinadores e os maiores jogadores. Isso me dá uma experiência muito grande de vestiário. Tem muitos treinadores que nunca jogaram em alto nível e isso não há faculdade que faça que o cara aprenda. 

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