Um dos grandes jogadores de futsal de Moc de todos os tempos, o fixo Luizão, envia-nos um texto falando sobre a sua história futebolística. Conta de forma literária e humorística como começou a trilhar os caminhos do esporte, narra passagens de sua vida como atleta, lembra as equipes nas quais atuou, entre outros assuntos. Atualmente, é bancário e ainda pratica a o futsal na pelada master no clube da AABB.
LUIZÃO, O PELADEIRO – POR ELE MESMO
Quando nasci, na década de 50 do milênio passado, Deus não disse: Esse é o cara! Ele simplesmente permitiu que eu vivesse a vida ao meu modo. Deve ter sido na época de lançamento desse tal de Livre arbítrio.
Sou montes-clarense, nativo daquelas bandas entre os Morrinhos e o Cemitério, onde corria atrás da velha G18, no campo de terra do glorioso Juventus – muita poeira na seca brava e lama que não acabava mais no tempo das águas - naquela época ainda chovia!
O primeiro time em que joguei foi o Sumaré, onde senti, por algum tempo, o gosto amargo de ser reserva. Mas foi uma escola. Aprendi que o futebol é como a vida. Melhor é aquele que consegue o equilíbrio. Ganhando ou perdendo, humildade é a palavra de ordem.
Já tiramos o sossego de muito defunto, pois o campo ficava ao lado do cemitério antigo e, como não éramos dotados de muita categoria com a pelota, era bicuda pra todo lado. Naquele tempo de menino bestaiado, uma coisa me intrigava - no campo santo havia uma placa - É proibido saltar o muro. Eu pensava: será que os defuntos são uns seres fugidozim? É claro que era endereçada a nós, mas não perderíamos o nosso balão de couro, nem que catacumba arrebentasse e o defunto aparecesse.
Assim, como filho de pobre não acha moleza, ainda criança pequena, dava os meus pinotes – vendia manga comum (de difícil comercialização, pois toda casa tinha, no mínimo, uma mangueira dessa qualidade), engraxava sapatos, enfim o que aparecesse, fosse honrado e rendesse alguns trocados, era com nós messssssmo. Era pegar nos trocados e descer o morro pra comprar algum apetrecho para a pelada – um capotão de segunda-mão, um meião do Flamengo, um kichute ou, quem sabe, até uma sunga Gorila.
Lá pelos 14 anos, mudei para o centro da cidade. Parecia outro mundo. Tudo muito chique, as pessoas cheias de lero-lero, hora-dançante na Praça de Esportes (ao meio-dia de domingo) e menina bonita que não acabava mais. No entanto, já não podia perambular por aí só de calção e sandália japonesa, como era comum a todos nas Casas Populares de João Botelho, onde, sempre que possível, retorno para rever os muitos amigos de infância, relembrar os bons tempos e, com moderação, apreciar umas e outras geladas.
Foi nessa época, na Praça de Esportes, que conheci o tal do futebol de salão. Difícil foi acostumar com as cacetadas e as raladas no cimento áspero. Como também comecei a praticar judô, adquiri maior destreza e reflexos rápidos. Aprendi a dar negaça nos adversários e, conseqüentemente, apanhar menos.
Tive a alegria de jogar, não importa se a favor ou contra, com praticamente todos os craques renomados da nossa cidade – não digo nomes pra não cometer injustiças. Entendo que o importante no esporte, não é ser o melhor, mas, sim, ser o excelente companheiro de equipe.
Disputei vários campeonatos municipais e jogos em diversas cidades do estado, ganhando alguns e perdendo outros. Lembrando, com todo o respeito e admiração, o grande técnico montes-clarense - Pedro da Jega (desculpe-me se não gosta do apelido):
- Já perdemos muito de sete e de oito, mas, orgulhosamente, nunca levamos uma goleada de nove.
Participei de jogos contra equipes renomadas, como Huracan, de Sete Lagoas, várias vezes campeão brasileiro e sul-americano; Atlético Mineiro – quando campeão brasileiro, sul americano e, salvo engano, mundial; Associação Cristã de Moços – campeã de Belo Horizonte da época e vários outros que a memória teima em não disponibilizar. Coisas da vida e do tempo.
Continuo a jogar boas peladas, sempre onde o espírito é o respeito, a alegria e o companheirismo.
Se resolverem formar uma equipe SUBSESSENTA, contem comigo. É só não deixar faltar iodex, bálsamo bengué, linimento São Francisco e demais adjuntórios, além, é claro, da ambulância que deverá estar sempre a postos.