O celular na escola

Jornal O Norte
22/02/2007 às 11:53.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:58

O telefone celular se incorporou de forma tão arraigada à rotina das pessoas que não dá mais para prescindir de sua presença. Para as crianças e adolescentes em fase escolar, cabe aos pais, escola e professores orientá-los na sua utilização consciente no convívio familiar e social, em ambiente escolar e no dia a dia de um modo geral

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

Não há como fugir, o celular faz parte do dia a dia e se tornou companheiro inseparável de pessoas de todas as idades.

(foto: Wilson Medeiros)

Se para muitos é instrumento útil no trabalho e dinamiza a comunicação, para outros é uma forma rápida de falar com os amigos e tem mil utilidades - serve de relógio, fotografia instantânea, acesso à Internet e muitos outros serviços. Outros, ainda, têm no telefone celular um objeto que confere status. Além disso, muitos têm a sensação de inclusão digital, isto é, de estar conectado e disponível para ingressar em processos interativos, o que dá ao celular o status de uma prótese de interação, uma extensão do próprio corpo.

Por mais que os pais tentem, essa nova tecnologia foi incorporada à rotina das crianças e adolescentes e não há como privá-las do uso, muitas vezes exagerado, do celular, que tem substituído a televisão, os livros e até a companhia física dos amigos.

Mas se não há como fugir dessa realidade é possível orientar na forma ideal de utilização dos seus benefícios, promovendo um aprendizado e familiarização com essa tecnologia que revolucionou a comunicação. Para isso, cabe aos pais, à escola e aos professores idealizar uma forma de utilização consciente do celular no convívio familiar, social e no dia a dia de um modo geral, como por exemplo, manter o aparelho desligado em teatro e cinema e sala de aula.

CELULAR NA ESCOLA

O período escolar é quando a criança forma o primeiro círculo de amizades, vivencia novas experiências e amplia seus horizontes e leitura de mundo. Para os pais, o momento exige atenção redobrada, auxílio nas dúvidas que surgem e maior acompanhamento no seu desenvolvimento escolar.

Hoje o celular já se incorporou a esse universo e, dependendo de como é utilizado, pode se tornar um aliado na organização das tarefas, tanto para os pais quanto para os filhos, auxiliando na socialização, comportamento e segurança. Mas é preciso orientação no uso correto do aparelho em ambiente escolar.

A pedagoga Domingas Almeida, que leciona na rede pública de ensino há quinze anos e atua como orientadora de escola particular especializada em Anos Iniciais há cinco, diz que o celular já se incorporou à rotina da escola.

- Para que esse novo elemento possa fazer parte do processo ensino-aprendizagem de forma útil, mostramos aos alunos como utilizá-lo e a importância de aprender a lidar com as novas tecnologias através de seus próprios aparelhos. Os celulares dispõem de ferramentas como agenda, serviços de localização, funções multimídia, enfim, um universo de possibilidades e orientamos aos alunos a usá-lo como incremento pedagógico. Ensinamos, também, que não é preciso competir entre si para terem este ou aquele aparelho, ou dar valor a um consumismo exagerado, mas como sua utilização correta pode trazer aproximação, alegria, coisas boas e aprendizagem. É papel da escola idealizar projetos para que os alunos aprendam a fazer uso consciente do celular e, também, orientar os pais neste processo. Para isso é essencial dar toques de responsabilidade e comportamento para que a criança aprenda a valorizar e respeitar o meio em que vive. Se formarmos um aluno consciente desde pequeno, teremos um cidadão consciente e uma pessoa que passará esse comportamento adiante – explica a professora.

Apesar do argumento da pedagoga, por causa do uso e abuso do telefone celular por parte de estudantes, nos últimos três anos, diretores e professores de escolas de todo país vêm discutindo as regras de conduta para o aparelho e algumas escolas, inclusive, proibiram o uso do celular em sala de aula.

Professor de Geografia de um cursinho pré-vestibular de Montes Claros, Gilmar de Oliveira diz que teatro, cinema e sala de aula são lugares onde o celular deve ser desligado.

- Por causa dessa exigência alguns alunos chegaram a mudar de colégio, mas a qualidade das aulas melhorou sem as constantes interrupções dos aparelhos. Mesmo que esteja configurado no silencioso, a saída do aluno da sala para atender à chamada, acaba por prejudicar o aprendizado não só dele, mas de toda a turma, que se distrai com a interferência – explica.

A professora Lúcia Silva, 58 anos, que leciona para alunos do ensino fundamental da rede estadual de ensino, conta que não foi preciso chegar a uma situação-limite para perceber a necessidade da regra.

- Os alunos começaram a aparecer com os aparelhos e, antes que as aulas fossem interrompidas por ligações, a diretoria proibiu o uso dos celulares durante as aulas, não só para alunos, mas também para os professores - completa.

Mãe de duas filhas em idade escolar, a professora Tânia Almeida, que atua nas primeiras séries do ensino fundamental, diz que em muitos casos os aparelhos celulares se transformam em invasores.

- Saber que os pais estão acessíveis estimula o imediatismo e a ansiedade da criança, que muitas vezes é tomada pelo sentimento do eu preciso agora.  Se os pais não estabelecem limites para as situações nas quais devem ser procurados pelos filhos, o celular toca de cinco em cinco minutos – salienta a professora, que também é psicóloga e diz que apesar de ser importante estabelecer limites para o uso dos celulares por crianças, o aparelho dá segurança emocional e ajuda a manter a proximidade entre pais e filhos.

- Com o celular o filho pode trazer de volta para casa a mãe que trabalha fora, sanando na mesma hora suas dúvidas. As crianças de hoje são diferentes do que foram seus pais ou avós e o celular se encaixa perfeitamente nessa nova realidade, além de ajudar a encontrar facilmente os filhos mais crescidos – completa a pedagoga e psicóloga.

Assim como qualquer outro objeto de consumo, Tânia ressalta ser importante que os pais estabeleçam regras para o celular.

- Sem regras a criança vai sempre querer o mais novo modelo do mercado a cada semana, ou ligar o tempo todo impedindo que os pais aproveitem um momento juntos – diz.

Já o professor, psicólogo e orientador escolar, João Batista, 48 anos, especialista em educação de crianças e adolescentes, diz que o celular é parte do mundo dos adultos e os pais não deveriam dá-lo para as crianças.

- Para a criança tudo é urgente e se ela tiver o número do celular dos pais vai ligar o tempo todo, por isso o número deveria ser restrito à pessoa responsável pela criança, que sabe avaliar melhor a verdadeira importância de uma situação – conclui o professor.

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