Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
No último final de semana, alunos do curso de Especialização em Saúde Coletiva, com ênfase em Saúde da Família, promovido pela diretoria de Pós-graduação da Funorte, se reuniram no salão de convenções do hotel Monterrey, para aula sobre urgência e emergência.
O curso ministrado pelo especialista em Cirurgia Geral e Vídeo-endoscopia, Fábio Atsuhiro Kimura, teve como objetivo capacitar os alunos, que são todos profissionais do Programa saúde da família para prestar suporte básico, reconhecer se está diante de um paciente grave e as ações imediatas que deve tomar.
Segundo Kimura, os agentes do PSF precisam estar habilitados para enfrentar essas situações, com capacidade de oferecer um tratamento mais especializado e até salvar vidas.
- Apesar do PSF só fazer atendimentos primários, não quer dizer que não exista possibilidade de chegar, por exemplo, um paciente com parada respiratória. Então, esses médicos e enfermeiros têm que estar habilitados para saber identificar e tratar imediatamente. A parte prática do curso é justamente para eles perderem o medo desse contato - explica.
O especialista em Cirurgia Geral, Bruno de Freitas Belezia, da equipe de apoio do doutor Kimura, diz que quando a equipe de PSF é bem entrosada no atendimento e se predispõe em resolver os problemas de saúde da comunidade o programa realmente funciona, resolvendo cerca de 70% a 80% desses problemas.
- O profissional do PSF geralmente pensa que nunca vai se deparar com uma situação de emergência, porque é médico de família, faz controle, vacina, e muitas vezes é chamado para atender em domicílio ou a comunidade leva ao posto de saúde um paciente em condições críticas e ele tem que tomar uma atitude imediata para melhorar o prognóstico - argumenta.
ENCURTANDO DISTÂNCIAS
Os alunos, em sua maioria enfermeiros que atuam nos PSF de cidades do norte de Minas e Sul da Bahia, buscam se qualificar para melhor atender à comunidade. Segundo Cristiano Leonardo de Oliveira Dias, enfermeiro há 3 anos do PSF em Engenheiro Navarro, existem muitas situações para as quais não se sente preparado.
- Por causa do hábito de trabalhar com prevenção e orientação, às vezes, ao passar por certas situações, não sei como lidar com elas. Urgência e emergência são uma delas. O curso é uma vontade de melhorar, de procurar novos conhecimentos, de estar atualizado. Daquilo que aprendemos na graduação tem muita coisa que não se usa mais - diz.
Magda Miranda Dourado, enfermeira há um ano no PSF diz que fazer o curso é uma iniciativa própria.
- Acredito que se cada um de nós buscar atualização profissional, a comunidade vai ser atendida de uma forma melhor.
Médica no PSF há 3 anos, Airam Soares diz que o programa vem avançado já que antes os profissionais tinham uma especialização especifica para trabalhar e hoje são mais generalistas e dão ênfase à prevenção e promoção à saúde.
ENFERMEIROS BUSCAM CAPACITAÇÃO
O curso vem sendo ministrado por Fábio Kimura há seis anos na região metropolitana de Belo horizonte e no interior do estado e, segundo ele, nas outras regiões os grupos são mais heterogêneos.
- Aqui o grupo é basicamente formado por enfermeiros. É possível notar que a categoria tem buscado mais pela qualificação. Existem algumas limitações de especialização e muitos procedimentos só podem ser feitos pelo médico. Mas o que a enfermeira não pode fazer, ela vai ter noção e poder auxiliar melhor o médico. Podem acontecer determinadas situações em que a enfermeira está totalmente capacitada e o médico não. O ideal seria que toda a equipe estivesse capacitada, falando a mesma linguagem - pondera.
Sobre a capacitação do profissional que atua no PSF, Kimura diz ter notado que a maioria não está habilitada para fazer o atendimento.
- O profissional deveria sair da graduação com esse conhecimento, mas infelizmente as faculdades não oferecem treinamento nem capacitação. Se o profissional não tiver iniciativa própria e buscar a qualificação ele não se torna habilitado. E em medicina as coisas mudam muito rapidamente.
Ele diz, ainda, que foi possível identificar que os alunos têm a noção do que fazer, mas, talvez por que demanda uma certa experiência, não tenham uma lógica de atendimento.
- Eles sabem que, por exemplo, ao paciente que não está respirando, eles têm que fazer respiração para eles, o paciente que não tem pulso, ou seja, o coração não está batendo, eles têm que fazer a compressão torácica. Eles sabem o que fazer, mas não sabem como.
PROTOCOLOS
Segundo ainda Kimura, em medicina tudo é protocolado. O curso faz uma abordagem desses protocolos, mostrando os caminhos, os passos a serem seguidos para cumpri-los.
- Mas só o curso não é suficiente. A capacitação só vai ser inteira quando o aluno chegar no PSF, fizer simulações, treinamento, repassar as informações para os colegas. Porque não vai adiantar nada apenas uma pessoa saber, ter o conhecimento de como fazer o atendimento certo se o restante da equipe não acompanha. Parece que existe uma certa deficiência de infra-estrutura. Tendo esse conhecimento, ele vai poder cobrar dos diretores, do secretário municipal, para que os postos sejam bem equipados.
O cirurgião geral Marcos Lázaro Avelar, integrante da equipe de professores, diz que o suporte básico de vida inicial é fundamental para que o paciente tenha uma evolução satisfatória no hospital.
- Muitas vezes o profissional sai da faculdade e por não lidar com situações de urgência, acaba esquecendo ou não assimilando os conhecimentos adquiridos na graduação. Na prática, o curso tem uma importância fundamental, pois os alunos vão estar mais preparados para enfrentar essas situações e quem sai ganhando é a comunidade - finaliza.