Escolas inclusivas mostram deficiência em ensinar

Jornal O Norte
19/07/2005 às 17:49.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:48

Káthira Cangussu


Repórter


kathira@onorte.net

Algumas escolas se mostram como inclusivas ao receberem crianças com dificuldades de aprendizagem. Esta é uma questão que exige uma certa reflexão por parte de cada instituição. Deve-se refletir, levando em consideração que, para um trabalho dessa natureza acontecer exigem-se algumas condições básicas, como o tempo, etapas didáticas e situações apropriadas  para o acolhimento dessas especificidades.

Essas escolas, no entanto, preferem, na maioria das vezes esperar que o aluno seja capaz de se adequar à forma tradicional de ensino, ou, simplesmente, que a família assuma o problema e resolva-o fora da escola.

AS DIFICULDADES

Dentro desse quadro, o aluno, com dificuldades de aprendizagem certamente permanecerá  no mesmo nível de aprendizagem caso não receba, de seu professor, alguma orientação específica às suas necessidades acadêmicas.

Por sua vez, esse professor também não terá condições de orientá-lo se desconhecer os devidos procedimentos a serem adotados, a fim de que essas dificuldades sejam superadas. A falta desse apoio poderá levá-lo ao  acúmulo  de frustrações que conseqüentemente causará prejuízos à vida escolar, social e afetiva  de qualquer aluno.

- Sabemos, por outro lado, que muitas escolas ainda não oferecem condições satisfatórias para o desenvolvimento de um trabalho específico que atenda às dificuldades de cada aluno. Ensinamos, mas não sabemos claramente por que ensinamos; o aluno quer aprender, mas não sabe bem para quê. Ensinar por ensinar, aprender por aprender parecem ser propostas pedagogicamente inconsistentes - falou a professora de história do ensino fundamental, Marta Fiusa Dias, ressaltando ainda que existem professores que vão para a sala de aula apenas para dar o conteúdo, sem se preocupar com o aprendizado desses alunos.

CAPACITAÇÃO DO EDUCADOR

Toda ação educativa visa sempre propósitos definidos. Capacitar o professor, tomando por base os quatro pilares da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser já é um bom começo para se chegar a uma boa escola.

Segundo Paulo César Ribeiro da Cruz, psico-pedagogo, é preciso  observar as necessidades dessa  nova  geração.  Faz-se necessário, também na prática desse novo educador, a tarefa de ensinar o aluno a pensar, a se organizar e a buscar nos conteúdos uma melhor relação para sua aplicabilidade fora da escola.

- Modificar procedimentos em sala de aula é medida urgente e necessária, já que essas medidas atenderão às necessidades de todos os alunos numa mesma sala. Não apenas os que aprendem diferente serão beneficiados. Vale lembrar que aprender é um direito de todos os alunos, e não apenas dos que possam, potencialmente, ser os bem sucedidos. Receber alunos com dificuldades, sem que se queira modificar nada do que já se tem, significa contribuir para o seu insucesso escolar, com a agravante de um quadro futuro de insatisfações e ansiedades que, por certo, começará a existir na medida em que sua aprendizagem se mostrar visivelmente defasada em relação aos demais alunos de sua faixa etária ou de sala de aula - concluiu.

DEFICIÊNCIAS

As dificuldades devem ser interpretadas pelos educadores não como fracassos, mas como desafios a enfrentar. Fazem parte da aprendizagem as dificuldades de aprendizagem. Algumas dessas dificuldades existem na vida de alguns alunos, independente da sua vontade ou de seus pais. 

Wanderléia Ruas Santos, 45 anos, mãe de Valeska Santos, portadora de necessidades especiais diz que se o educador não possui a competência para identificar no seu espaço de sala de aula alunos que apresentem indícios de alguma dificuldade, seja ela auditiva, locomotiva ou outra, significa dizer que este educador também não terá condições de avaliá-los, tendo em vista que a avaliação é um processo contínuo e permanente do desenvolvimento das habilidades de cada aluno, observando-se as condições de aprendizagem que se dão antes, durante e depois da execução de cada atividade.

Lembra ainda que o aluno, diante disto, vê a avaliação não como um processo do seu desenvolvimento, mas como um instrumento que serve, apenas, para julgá-lo e nunca para ajudá-lo.

AVALIAÇÃO

- Se em sua avaliação, o educador ignora ou desconhece todas as informações pertinentes a estas dificuldades, acontecerá, no mínimo, um duplo fracasso: o fracasso do aluno, que falhou por não ter sido atendido em suas dificuldades, e o fracasso do professor, que não conseguiu interpretar os constantes e repetitivos erros deste aluno como indício de prováveis dificuldades especificas da  aprendizagem acadêmica - falou o psicólogo Joaquim Rocha.

- Faz-se necessário, portanto, construir práticas pedagógicas que considerem as necessidades dos alunos, assim como todas as suas possibilidades de aprendizagem, criando condições e dando-lhes autonomia suficiente, para que aprendam, não só umas com as outras, mas também com seus próprios erros, sem medos, preconceitos ou discriminações. Caso contrário, a escola será sempre um lugar sem os atrativos que proporcionam o prazer e dessa forma, fatalmente, logo será rejeitada; reprimindo seus sentimentos, o aluno apresentará comportamentos que poderão explodir sob as formas mais inexplicáveis possíveis.

É importante que a escola elabore, como objetivo prioritário, em sua proposta pedagógica, uma forma de diagnosticar os problemas provenientes do processo de aprendizagem, assim como, um plano de ação para se atingir esse objetivo.

A aprendizagem, no ensino tradicional, em relação à forma que o conteúdo é abordado ainda é imposta e não mediada, no espaço de sala de aula, o que sugere, algumas vezes, um clima de tensão e, de certa forma, de violência para aprender, travando-se indiretamente e inconscientemente um duelo entre aquele que sabe e impõe e aquele que obedece e se revolta.

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