Patrimônio em sons e cordas

Viola tem agora reconhecimento como patrimônio imaterial de Minas Gerais

Manoel Freitas (*)
Montes Claros
15/06/2018 às 07:54.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:37
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas (Iepha-MG) celebrou ontem o reconhecimento da viola como Símbolo Cultural, Patrimônio Sonoro e Imaterial de Minas Gerais. 

A solenidade realizada na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, teve direito a show dos maiores mestres mineiros da viola, além de pesquisadores e parte dos 1.300 artesões mapeados no Estado.

A ligação do instrumento às tradições em todo território mineiro levou o Iepha a elaborar um dossiê apresentado ao Conselho Estadual de Patrimônio Cultural de Minas Gerais (Conep). O instrumento português que chegou ao Brasil no período da colonização foi tão bem acolhido em Minas que ganhou nomes, formatos, técnicas de fabricação e maneiras de tocar completamente diferentes.

Agora, a viola está no mesmo hall do Queijo Artesanal do Serro, a Comunidade dos Arturos de Contagem, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte e das Folias de Minas, todos reconhecidamente patrimônios mineiros.

ESCOLA DE VIOLA
O cantor, historiador, pesquisador e autor brasileiro vivo com o maior número de músicas gravadas com o instrumento, Téo Azevedo, ganhador do Grammy Latino Música de Raiz, destacou o prazer de participar do movimento em favor do reconhecimento da viola como patrimônio sonoro de Minas. Azevedo é de Alto Belo, Bocaiúva, terra de Henfil e Betinho, lugar considerado “escola de viola” por realizar há 37 anos a Folia de Reis de Alto Belo e ser berço de luthiers consagrados mundialmente. 

Téo Azevedo disse considerar essa uma data importantíssima para Minas Gerais, mas ressalta que “esse reconhecimento já existia no coração do povo que ama a viola”.

Disse ainda que “existem três mineiros na viola que são referência para o país e para o mundo: Renato Andrade, porque colocou o erudito na viola caipira, o clássico; Zé Coco do Riachão, ganhador do prêmio Melhor Instrumentista do Brasil pela grandeza da fabricação do instrumento e os toques folclórico centenário vindo de Portugal; e Tião Carreiro, por ter criado o Pagode de Viola Caipira em 1959, fonte onde todos os violeiros que estão aí beberam e ainda bebe até hoje”.

O pesquisador Carlos Felipe Horta, estudioso da trajetória da viola no país, relata que, com o tempo, ela foi ganhando adeptos em todos os cantos do Estado e, por isso, acabou se transformando em objeto tão representativo.
(*) Com Raul Mariano, do Hoje em Dia

“É uma tradição viva”Michele ArroyoPresidente do Iepha-MGH

Luthier da região exporta criações
João Alves Botelho, o João de Bichinho, que reside na divisa de Bocaiúva e Glauci-lância, no Norte do Estado, é considerado na atualidade um dos mais importantes fabricantes de viola do Brasil.

“Foi com grande emoção (que recebi) o reconhecimento do instrumento como patrimônio imaterial de Minas. Sorrindo...”, disse o artista, lembrando que fabricou a primeira viola há 42 anos, para o tocador Téo Azevedo, “hoje um dos nomes mais expressivos no cenário da viola no Brasil”.

Questionado sobre quantas violas mais já produziu na carreira, o experiente luthier disse ser “incalculável”, mas lembrou que suas criações “estão pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos”.

As peças são também vendidas em feiras de artes em São Paulo, Rio de janeiro, Brasília e Belo Horizonte. Todo o processo de confecção da viola leva 15 dias, razão pela qual a produção é em série, de três em três peças.

João de Bichinho não faz segredo. Diz que no início sempre fabricou a viola com cedro, mas com o tempo foi mudando. “Hoje utilizo imbuia e, sobretudo, pinho, o pinho importado, que custa mais caro, mas que proporciona peças de outra qualidade, perfeitas”. 

Para o mestre de Folia de Reis Antônio Carlos de Souza Gomes, o Valdo – da dupla Valdo e Vael e presidente do Terno de Folia de Reis de alto Belo –, o reconhecimento da viola como patrimônio imaterial “é uma conquista relevante para nossa cultura, para os violeiros, para quem curte a viola e em especial para os tocadores desse imenso Brasil”.

Mestre Valdo lembra que a viola começou timidamente no Brasil, “antigamente mais na roça, nas Folias de Reis”, e a partir daí começaram as primeiras duplas autênticas de violeiros. “Mas a viola com essa magia, com esse som maravilhoso, foi ouvindo caminhos, ultrapassando fronteiras”, diz, emocionado. 

“É uma tradição viva”, ressalta Michele Arroyo, presidente do Iepha-MG. Com o reconhecimento, a proteção da viola e dos violeiros vai se tornar mais fácil por meio da adoção de novas políticas públicas dirigidas a essa tradição. “Isso permite ações de salvaguarda. A partir daí, voltamos a cada lugar que visitamos e começamos a traçar ações de apoio de acordo com a necessidade da região do Estado”, detalha. 


 

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