‘O reconhecimento vem todo lá de fora’

Cantor e compositor Jorge Takahashi fala do novo trabalho, da carreira e dos desafios dos artistas da região

Adriana Queiroz
Montes Claros
17/07/2017 às 23:51.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:37
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Andando pelas ruas da cidade ele pode até passar despercebido do grande público. No entanto, quando se fala de música de qualidade, o cantor e compositor Jorge Takahashi tem não apenas fama, mas muito talento e reconhecimento no meio musical.

No próximo sábado, 22, ele se apresenta no palco da AMAMS, ao lado do guitarrista e compositor Toninho Horta, músico mineiro com vasta carreira musical e um dos nomes do Clube da Esquina.

Neste ano você celebra 58 anos de idade e 38 anos de carreira...

Desde os 16, 17 anos, eu já tinha uma grande vontade de fazer, além do que tocar música dos outros. Eu queria compor também. Isso veio através de festivais da canção que existiam na nossa época, os festivais das escolas secundaristas, enfim, tudo começou daí. 
 
Qual balanço você faz de sua trajetória?
O balanço que faço é totalmente positivo, muita experiência, aprendizado, alegria e de tristeza também. Ninguém vive num paraíso, em qualquer profissão que seja. Não me arrependo nunca de ter feito essa escolha. Ser artista no Brasil é muito difícil. Mas, tudo é positivo. Muitas pessoas num contexto nacional me gravaram. Estou indo para o quarto CD, que será lançando no início do ano que vem na Festa do Pequi.
 
Como é seu processo de criação?
Em 1984 para 1985, tive a grata satisfação de conversar pelo telefone na casa do Jorge Emil – grande parceiro, menino muito mais novo do que eu, um grande geniozinho. Ele tinha um tio que era amigo do Carlos Drummond de Andrade. E eu disse para Drummond assim pelo telefone: “Eu gostaria de compor uma música sobre seu trabalho”. E ele me disse assim: “Jorge, componha a sua arte sobre meu trabalho, o artista é você”. Isso foi de uma tamanha humildade, clareza de pensamento, que eu pirei! E aí o processo de criação pra mim é um trabalho. Qualquer hora a gente para e trabalha naquilo que é a gente acha que é capaz de fazer. Aí vem a tal da inspiração. Mas a inspiração ela faz parte de quem busca o trabalho. Você não está na cama deitado que ela vai vir não. Você tem que está tocando, buscando o instrumento, amando o que você faz, aí ela vem. 
 
Como você avalia o que construiu?
Fases. Eu construí fases em minha vida. Eu construí MPB, a música que aprendi ouvindo o Clube da Esquina, que aprendi ouvindo o jazz. Uma levada minha. Eu acho que tenho uma característica minha que foi inspirada nesse povo que citei. Mas posso dizer que tenho um rumo meu. Um prumo meu hoje. A música minha tem minha cara. É MPB. Tenho música no ritmo de samba, adoro samba, tenho as baladas iguais as do Lô Borges, do Beto Guedes. Tenho um afoxé, vamos dizer assim, que não é axé. Sou uma mistura brasileira. Adoro reggae. Tenho reggae. Faço uma mistura do Brasil. Sou um mineiro criado no Clube da Esquina, mas que não faço só balada. Adoro fazer samba. Tenho dois sambas incríveis em parceria com o Zé Francisco Gabrich, nosso saudoso poeta. E depois desses sete anos parado, vocês terão o prazer de ver agora meu CD.
 
Sobre o reconhecimento ou não reconhecimento dos artistas de Montes Claros, qual é a sua opinião?
O reconhecimento dos artistas do Norte de Minas e Montes Claros é zero. A imprensa reconhece. Alguns poucos cidadãos reconhecem. O poder público não reconhece. Só faz propaganda. Montes Claros tem uma riqueza tão grande de cultura, não só a cultura individual da gente como compositor, mas uma cultura folclórica esplendorosa, uma cultura gastronômica, o pequi. Puxa vida! Isso aqui é um paraíso, mas mal explorado. Vejo que o reconhecimento nosso é todo lá fora. De repente lá fora sou reconhecido, mas aqui na minha própria cidade, não. Isso não só acontece comigo. Acontece com todos.

“O reconhecimento dos artistas do Norte de Minas e Montes Claros é zero. A imprensa reconhece. Alguns poucos cidadãos reconhecem. O poder público não reconhece. Só faz propaganda”
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