Música com sabor de saudade: depois de mais de trinta anos o músico, cantor e compositor Ciro Araújo está de volta a Montes Claros

Jornal O Norte
21/03/2007 às 11:15.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:00

Depois de mais de trinta anos o músico, cantor e compositor Ciro Araújo está de volta a Montes Claros. Para matar a saudade dos amigos de infância e companheiros de palco, o cantor se apresenta nesta quinta-feira no Automóvel Clube

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

Música mais que romântica. Rosto colado. Dois pra lá, dois pra cá. Assim será a noite desta quinta-feira, 22 de março, com o show do músico, cantor e compositores montes Ciro Araújo.

Depois de muitos anos vivendo longe de Montes Claros, viajando pelo mundo, o músico volta a sua terra natal trazendo na bagagem, como ele mesmo diz, muita saudade das canções e dos amigos da juventude.

- Nesse show, além de dar continuidade ao meu trabalho em São Paulo, para onde me mudei em 1974, também quero tomá-lo como ponto de partida para um tour que pretendo fazer região onde alicercei meus valores pessoais e profissionais – diz o cantor, que nesta quinta-feira se apresenta ao lado do amigo com quem compartilhou o palco no início da carreira, Ismoro da Ponte.

Ciro é um dos herdeiros da prolífera arte montes-clarense. Músico desde a mais tenra idade, herança genética e de influência dos amigos – ele diz que não foi ele quem escolheu a música, mas a música quem o escolheu - ainda garoto formou sua primeira banda - Yellow Cats - ao lado dos músicos Ismoro da Ponte, Márcio Durães, Edson Zazu, entre outros, numa época em que Montes Claros se dividia em dois lados: abaixo e acima da linha.

- Nessa época, por volta de 1968, quem morava do lado cima era tido como bandido, “pirata”; e o músico que morava do lado de baixo e queria ver nosso show precisava ser escoltado por um de nós para não apanhar – relembra Ciro. Segundo o cantor, enquanto o Yellow Cats tocava em uma casa na Vila Guilhermina, que também servia de sede para os ensaios da banda, do lado de baixo da linha quem fazia sucesso era o grupo Brucutus, dos Guedes e companhia.

Depois da Yellow Cats, que tocava basicamente em Montes Claros, o grupo se mudou para Bocaiúva e passou a se chamar Lord Biond Show. Além de se apresentar numa casa de shows chamada Cancelão, a banda começou a ganhar o público de outras cidades da região.

- Viajávamos em um fusca que dava conta de carregar músicos e equipamentos. Era uma loucura, mas também uma bela aventura. Éramos muito felizes e levávamos a sério a música – conta Ismoro, que na época já se revelara um baterista virtuoso.

Depois de Bocaiúva o grupo se mudou para Janaúba, adotou o nome Tropicais, e mantinha concorrência acirrada com o grupo Os Cardeais, de Salinas, que também se destacava no cenário regional. Ciro lembra que nessa época havia mais de 22 bandas de baile em Montes Claros.

Desde a primeira banda, Ciro conta que sempre cantou e tocou em baile.

- Na época as pessoas gostavam de dançar coladinho e os grandes sucessos eram Renato e seus Blue Caps, Fevers, Os Populares, todo o pessoal da Jovem Guarda, além dos Beatles. E o público só queria ouvir suas músicas. Confesso que desde o começo cantei em bailes - que acredito que ainda seja a melhor escola - e até hoje é o que faço – conta o músico.

ABRINDO CAMINHOS

Em 1974, o grupo se desfez e alguns dos músicos se mudaram para São Paulo, onde se encontraram. Ismoro e Ciro passaram a acompanhar o cantor Newton César durante um ano, até que Ismoro se mudou para Belo Horizonte e Ciro montou seu próprio grupo, Elos, com quem trabalhou durante cinco anos.

- A banda era interessante, mas tudo em São Paulo é muito longe, dava muito trabalho para ensaiar então decidi comprar um teclado, aprendi a tocar e passei a fazer meus shows sozinho – conta Ciro.

Em 1995 Ciro foi para o Japão, onde ficou por seis meses.

- Assim que cheguei ao Japão, aconteceu um terremoto que matou milhares de pessoas. Fiquei muito assustado e quase voltei para o Brasil, mas as coisas se acalmaram e acabei ficando. Foi uma das experiências mais importantes que tive na vida, não só como músico, mas principalmente como pessoa. Os japoneses são muito disciplinados, se cuidam, têm valores muito latentes. O que aqui no Brasil é motivo de orgulho, como um gesto de honestidade, lá é uma prática, um dever. Quando retornei senti dificuldade em confiar nas pessoas porque vi o quanto não nos damos valor, não cuidamos da saúde, fazemos as coisas mesmo sabendo que vai nos fazer mal, como não usar camisinha, jogar lixo nas ruas, apropriar do que não nos pertence, tirar proveito da boa fé das pessoas, essas coisas – analisa Ciro, que no período em ficou no Japão cantou na churrascaria O Laçador, tipicamente gaúcha.

- Era interessante ver os japoneses de bombachas, lenço vermelho no pescoço, servindo picanha. Lá tocava o mesmo repertório que vinha tocando em São Paulo e era acompanhado por duas bailarinas brasileiras. Durante o dia não podia sair da cidade ou andar sozinho, senão seria considerado clandestino – conta.

De volta ao Brasil Ciro continuou seu trabalho e, em 1997, gravou o primeiro CD – Minha Conquista – com 10 faixas autorais, pela gravadora For All Music. O segundo disco veio em 2000, com versões de clássicos da música internacional, pela Brasidisc. O mais recente trabalho foi gravado em 2004, onde Ciro Araújo canta O Mais Romântico do Forró. Os três trabalhos têm arranjos, produção e gravação do cantor.

DE VOLTA

Depois de mais de trinta anos em São Paulo, Ciro resolve voltar a viver em Montes Claros.

- A vida em São Paulo é muito corrida. Por melhor que seja sua estrutura, o dia fica pequeno porque tudo é muito longe e você acaba não aproveitando bem seu tempo. Além disso, tem a questão da falta de segurança. Então resolvi voltar para Montes Claros e continuar meu trabalho daqui. Quando tiver que ir a São Paulo ou qualquer outro lugar para fazer show, não tem problema, mas, a partir de agora, minha base será aqui – Diz o pai de Cassiano, que se prepara para rever as cidades onde começou a cantar.

Alem dos shows, Ciro montou um estúdio de gravação, o Artsan, onde pretende gravar suas canções e abrir o espaço para outros artistas.

O SHOW

Nesta quinta-feira, acompanhado do músico Ismoro da Ponte, Ciro Araújo apresenta um show cujo repertório é composto pelas canções que interpreta desde o começo da carreira, além das composições próprias.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por