Frágil situação dos sítios históricos de Montes Claros provoca polêmica quanto a sua restauração

Jornal O Norte
05/02/2007 às 12:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:57

A frágil situação dos sítios históricos de Montes Claros provoca polêmica quanto a sua restauração: de um lado, os que a importância da preservação consciente e sustentável do patrimônio; de outro, os que consideram desperdício do dinheiro público o investimento em forma de paliativo que não resiste às intempéries, convencer sociedade e autoridades da necessidade de se criar uma cultura da preservação é tão importante quanto a restauração das obras. Mas até que ponto vale a pena investir o dinheiro público em obras que estão em ruínas?

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

Nos últimos anos países de todo mundo vêm buscando resguardar sua história através da recuperação do patrimônio histórico. Essa iniciativa, além de recontar o passado de um povo, também se torna um importante fator de desenvolvimento econômico e social.

No Brasil, a preocupação com a preservação de seu patrimônio histórico, artístico e cultural é relativamente recente e veio com a criação do Iphan - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional década de 1930, pelo mineiro Rodrigo Mello Franco de Andrade e por inspiração do poeta, escritor e pesquisador paulista Mário de Andrade, cujas primeiras iniciativas se concentraram no tombamento de sítios de valor artístico-cultural, como Ouro Preto.

Desde então, a luta pelo patrimônio vem percorrendo longos e tortuosos caminhos, sempre em busca de uma conscientização sobre a necessidade de preservação das raízes culturais, seja em bens imóveis - chamadas patrimônio de pedra e cal -, seja em bens intangíveis, representados pelos usos e costumes tradicionais do povo de uma região.

Por sua importância histórica e pela diversidade cultural, Minas Gerais é a maior referência de conservação do patrimônio do país, tendo inclusive, cidades inteiras tombadas como patrimônio da humanidade, como é o caso de Ouro Preto, Mariana e Diamantina.

Apesar de ser umas das mais importantes cidades do Estado, Montes Claros não conseguiu resguardar seu patrimônio, mesmo com as constantes cobranças da população.

Dona de um casario invejável, a cidade possui dezenas de construções antigas no centro histórico, mas a maioria delas está em ruínas. De acordo com o secretário municipal de Cultura, João Rodrigues em 2005 a cidade recebeu a pontuação de 4.7 do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico, o IEPHA-MG para repasse de recursos do ICMS Cultural. Em 2004 a pontuação estava em cerca de 2.3. Isso representou um aumento significativo no volume de repasses para o município a serem investidos em ações emergenciais.

Segundo a Divisão de Patrimônio Histórico da secretaria, Montes Claros tem hoje 17 bens tombados pelo município, através do decreto-lei 1.761, de 28 de setembro de 1999: o conjunto urbanístico da Praça da Matriz; Igreja da Matriz; casarão dos Mendes; solar dos Oliveira; casarão dos Canela; Palácio Episcopal; casarão dos Maurício; prédio da antiga Fafil; três sobrados na Rua Justino Câmara, de números 114, 115 e 93; Santuário do Bom Jesus; Capela do senhor do Bonfim; Escola Estadual Gonçalves Chaves; sobrado da PM (antigo Colégio Tiradentes); antigo conservatório estadual de música Lorenzo Fernandez e a Catedral e capela de São Geraldo.

Para comemorar os 150 anos que a cidade completa em 3 de julho de 2007, a administração municipal vem desenvolvendo um programa de revitalização do patrimônio histórico e cultural, com restauração do Palácio Episcopal, Solar dos Mendes, o Casarão dos Maurício, o Solar dos Oliveira - parte de sua estrutura desabou no final do ano passado – e recuperação da estrutura básica e do projeto paisagístico da Praça Doutor João Alves (Matriz). De acordo com a Divisão, município espera que sejam liberados recursos do governo do Estado para a conclusão das obras de reforma do Casarão da Fafil.

Apesar dos esforços, as reformas têm sido apenas um paliativo e certamente, da forma como estão sendo feitas, os casarões não resistirão a um período chuvas mais prolongado. Se uma parte da população cobra pela preservação dos casarões, outra prefere vê-los demolidos, dando lugar a novas edificações. Cabe à Divisão de Patrimônio Histórico do município decidir até que ponto vale a pena investir o dinheiro público nessas edificações.

GRAÇA QUE RESISTE AO TEMPO




(foto: Fábio Marçal)

O próximo investimento do programa de revitalização será na Capela de Nosso Senhor do Bonfim, a histórica Igrejinha dos Morrinhos, que receberá serviços emergenciais de correção na cobertura que está com diversas telhas quebradas e conseqüentes infiltrações que prejudicam o revestimento interno, rachaduras nas paredes e problemas na instalação elétrica. A obra será viabilizada por parceria entre a prefeitura e uma empresa da cidade.

Símbolo dos 150 Anos de Montes Claros, a Igreja dos Morrinhos foi construída entre 1884 e 1886, como cumprimento de uma promessa. Os recursos para sua construção foram levantados pela idealizadora da obra, dona Germana Maria de Olinda, cujo corpo está enterrado na capela.

Símbolo dos 150 Anos de Montes Claros, a Igreja do Morrinhos foi construída entre 1884 e 1886, fruto do cumprimento de uma promessa. Os recursos, oriundos de doações, foram captados pela idealizadora da obra, dona Germana Maria de Olinda, cujo corpo está enterrado na capela.

De acordo com levantamentos históricos, em 1930 a igreja recebeu reparos que a descaracterizaram, mas em 1940 o prédio foi restaurado retomando sua forma original. A última intervenção foi em 1996, conduzida pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Montes Claros, em parceria com o Conselho da Igreja, a Associação dos Moradores do Bairro e empresários.

Um dos principais cartões postais da cidade, a igrejinha se localiza no alto do Bairro Morrinhos, onde se destaca o cruzeiro em madeira. A igreja pertence à Paróquia de Santa Rita é utilizada para celebrações de casamentos e missas especiais.

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