A saga de Antônio Dó: o herói-bandido

Jornal O Norte
29/01/2007 às 11:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:56

A vida atribulada do jagunço contra o qual o governo se cansou de perseguir e cujos feitos ainda hoje são lembrados ao pé da fogueira pelos sertanejos, com admiração e temor, contada pelo jurista, agrimensor, poeta, jornalista e professor Petrônio Braz em romance histórico

Jerúsia Arruda


Repórter


jerusia@onorte.net

A história da vida de Antônio Dó, um pequeno sitiante que viveu no final do século XIX e início do XX, na cidade de São Francisco, Norte de Minas Gerais, está registrada na memória da população sanfranciscana e vem sendo perpetuada pela oralidade. Para manter viva a memória desse sitiante que a região tem como mito, uma ou outra obra literária e artigos acadêmicos têm feito pesquisas e registros que suprem lacunas sobre sua história.




O cerrado do Norte de Minas, Sul da Bahia e Sul de Goiás é cenário dos dramas vividos por Antônio Dó

Uma dessas obras será lançada no próximo mês de fevereiro, pelo escritor, advogado e professor Petrônio Braz, com o título Serrano de Pilão Arcado, A Saga de Antônio Dó.

O romance é resultado de 23 anos de estudo sobre a saga de Antônio Dó, e dos costumes, linguajar, crendices, indumentárias e modos do sertão baiano-mineiro em que viveu.

Em 596 páginas instigantes, Petrônio Braz retrata com intimidade a vida de Antônio Dó, tido como o mais temido bandoleiro do Alto Médio São Francisco, e faz um resgate de sua identidade sócio-política, ao mesmo tempo que retrata, na mais pura poesia, com uma linguagem estética fiel à época, a vida do sertanejo, os aspectos geográficos e culturais de seu habitat, o Norte e Minas e Sul da Bahia, que se unem  pelas águas do Velho Chico, a riqueza do serrado e sua luta para sobreviver à devastação do homem, a soberania do rio São Francisco e, ainda, relata com riqueza de detalhes fatos ligados à história da região. Além dos dramas e conquistas de Antônio de Dó e seus antepassados, Petrônio Braz fala de outras personalidades, com diálogos que transportam o leitor pela linha imaginária da história, das lendas, desembarcando numa época de pleno embate entre o povo oprimido e os coronéis e seus comandados.

Chamado por Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas de severo bandido, no romance de Petrônio Braz, Antônio Dó aparece como o Robin Wood do sertão, misto de herói e bandido, ou um Lampião norte-mineiro, jagunço contra o qual o governo se cansou de perseguir e cujos feitos ainda hoje são contados ao pé da fogueira nos serões dos sertanejos, com admiração e temor.

Em seu texto de apresentação, Edgar Antunes Pereira diz que a obra é brilhante, faz jus à vida atribulada do herói-bandido, e aponta para o mundo um romancista a se alinhar aos grandes nomes da literatura. A verdadeira personalidade de Antônio Dó foi revelada. Cumpriu-se o desafio.

Na opinião de intelectuais e conhecedores das singularidades e sutilezas da vida sertaneja, em Serrano de Pilão Arcado – A Saga de Antônio Dó, o autor de Jandaia em Tempo de Sertão - que o cronista e escritor Raphael Reys compara ao pai das leis, Sólon, pela intelectualidade clássica e mente privilegiada, e a Mahatma Gandhi, pela simplicidade estóica e contemplativa -, foi magistral, e completa o conhecimento do sertão brasileiro tão bem analisado e descrito por Euclides da Cunha e Guimarães Rosa.

AS MUITAS FACES DE ANTÔNIO DÓ

O fazendeiro conhecido como Antônio Dó teria uma vida pacata como a de qualquer outro fazendeiro sitiante, se não fosse o fato de ter sido submetido aos mandos e desmandos da polícia local.



Durante 23 anos Petrônio Braz estudou e remontou o enredo para escrever a história de Antônio Dó

Após ser preso, por questões de demarcação de terra com seu vizinho, Chico Peba, em 1909, e somado à mágoa de não ter visto esclarecido o assassinato de seu irmão, Honório Antunes França, Antônio Dó fugiu da delegacia em que estava preso. Recrutou um grupo de homens que, a partir de então, passou a segui-lo e juntos fizeram justiça com as próprias mãos. Durante dezenove anos, Antônio Dó percorreu o Norte de Minas, Sul da Bahia e Sul de Goiás, fez alguns trabalhos para coronéis da região, atuou por conta própria em um garimpo nas proximidades de Paracatu, mas jamais voltou a exercer a função de lavrador.

Confrontou-se com a Polícia Militar várias vezes, naquele período chamada de Força Pública. O contexto histórico em que seu bando existiu foi marcado pelo excesso de intervenções na administração local por parte dos interesses particulares; já que os homens que exerciam este poder não limitavam suas ações para conseguir o que queriam e, conseqüentemente, retiravam ou eliminavam do caminho as pessoas que não estavam de acordo com suas vontades.

Por conseqüência disto, Antônio Dó foi assassinado, em 1929, por um membro de seu bando, que acreditava que seu líder possuía uma garrafa cheia de diamantes.

A história de vida de Antônio Dó, após seu assassinato, foi motivo de muita conversa entre fazendeiros, coronéis, vaqueiros, nas fazendas da região e moradores da cidade. Estes causos, com o passar dos anos, caíram no esquecimento para alguns, mas para aqueles que viram, viveram, ou foram vítimas de Antônio Dó, a lembrança dele e de seus atos não se apagaram da memória.

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Serrano de Pilão Arcado – A Saga de Antônio Dó


Petrônio Braz.


Romance, 2006


Editora Mundo Jurídico, 596 páginas


Lançamento:


Dia 07 de fevereiro, na sede da Associação Nacional de Escritores, em Brasília/DF


Dia 14 de fevereiro, no Automóvel Clube de Montes Claros/MG


Dia 15 de fevereiro, no Centro Cultural, em São Francisco/MG


Dia 16 de fevereiro, na Câmara Munucipal, em Chapada Gaúcha/MG

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